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Lei em Campo

Cazarez, de craque a problema. Clube poderia ter feito diferente

Andrei Kampff

23/04/2019 10h00

Juan Cazares se tornou um dos assuntos mais comentados do Twitter pós decisão do Mineiro. E não foi pelo futebol que pode mostrar.

O meia tem talento. Sabe jogar como poucos. Mas também sabe complicar.

Chegar atrasado à concentração quando todos os colegas lá estão por um compromisso com o clube em que trabalham, por respeito à torcida que defendem, é uma pisada de bola que não combina com um camisa 10.

O clube atendeu um pedido do grupo e liberou o atacante pra jogar a primeira partida da decisão do Mineiro mesmo após o atraso. Ele não rendeu o que pode, se machucou e o time dele perdeu o campeonato pro maior rival.

Tudo isso catalisou uma bronca que já era ouvida mais timidamente pelos lados mineiros: a falta de profissionalismo do equatoriano.

Agora, o meia que era referência de qualidade pro time passou a ser moeda de troca.

O clube poderia ter conduzido a história de maneira diferente? O Atlético poderia ter criado mecanismos de proteção que inibem condutas assim? Sim, duas vezes.

É o que explica o advogado especializado em gestão esportiva e colunista do Lei em Campo, Nilo Patussi.


O meia do Atlético Mineiro Juan Cazares pode deixar o clube de Belo Horizonte após ele ter se atrasado para a concentração no primeiro jogo da final do estadual.

Segundo informações publicadas pela imprensa, o jogador equatoriano teria deixado a diretoria do clube irritada após o ocorrido, e ela já estaria discutindo a possibilidade de o meia sair do clube.

Dúvidas relacionadas à real condição do atleta, que jogou apenas 18 minutos na final do estadual mineiro, também vieram à tona. Sentindo dores, ele não foi relacionado para os últimos jogos mesmo com a liberação do departamento médico.

Essas condutas poderiam ser evitadas se existisse para os atletas uma orientação por meio de regras e diretrizes internas. 

Os regulamentos internos têm a finalidade de ordenar todas as diretrizes esperadas pela instituição para os seus colaboradores, parceiros, patrocinadores e demais investidores. Além disso, explanam o funcionamento e suas punições em casos de descumprimentos. Vale lembrar que a Consolidação das Leis do Trabalho (CLT) permite a criação de regras internas desde que não contrariem a lei.

Regulamentos internos são muito importantes para a saúde da instituição.

Empresas ao redor do mundo adotam códigos de ética como uma ferramenta gerencial que tem permitido uma padronização nos comportamentos dos seus empregados e parceiros. Tornam o ambiente de trabalho mais harmonioso. Padrões comportamentais propiciam para o grupo regras mais transparentes e, quando for o caso, multas (punições) mais razoáveis.

Profissionalismo gera profissionalismo. Falta de informação pode gerar a ideia de falta de transparência de ambos os lados na relação empregado/empregador.

Uma conduta de indisciplina gera reflexo negativo para colegas, comissão técnica, diretoria, instituição, para a carreira do próprio jogador e, principalmente, para o espírito esportivo.

Ao colocar as cores do clube, o jogador precisa entender que ele é um representante daquela instituição, daquele grupo, daquela torcida e daqueles patrocinadores. Práticas desonestas, rebeldes e de falta de disciplina podem, devem e precisam de repreensão.

 

Sobre o autor

Andrei Kampff é jornalista formado pela PUC-RS e advogado pela UFRGS-RS. Pós-graduando em Direito Esportivo e conselheiro do Instituto Iberoamericano de Direito Desportivo e criador do portal Lei em Campo. Trabalha com esporte há 25 anos, tendo participado dos principais eventos esportivos do mundo e viajado por 32 países atrás de histórias espetaculares. É autor do livro “#Prass38”.

Sobre o blog

Não existe esporte sem regras. Entendê-las é fundamental para quem vive da prática esportiva, como também para quem comenta ou se encanta com ela. De uma maneira leve, sem perder o conteúdo indispensável, Andrei Kampff irá trazer neste espaço a palavra de especialistas sobre temas relevantes em que direito e esporte tabelam juntos.