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Lei em Campo

Situação de Carneiro é difícil: doping no esporte é tratado com rigor

Andrei Kampff

23/04/2019 04h00

O doping é tratado de maneira severa no esporte. As punições são longas, e a defesa do atleta normalmente é difícil. Se comprovado doping de Gonzalo Carneiro, é grande a chance de o jogador do São Paulo ficar um bom tempo afastado do futebol.

Exame antidoping realizado por Carneiro na partida contra o Palmeiras, pela primeira fase do Campeonato Paulista, testou positivo para cocaína. O exame foi realizado pela Federação Paulista de Futebol, que enviou o teste para a Associação Brasileira de Controle de Dopagem (ABCD), responsável por fazer a gestão do resultado e laboratório credenciado pela WADA. O jogador tem até quarta para pedir a contraprova. 

Se a contraprova apontar também o uso da substância proibida, a situação do atleta ficará muito difícil. A Agência Mundial Antidopagem, a WADA, é quem determina quais substâncias são ou não permitidas no esporte. A entidade independente foi criada em 1999 para coordenar os esforços contra dopagem e redigir o código de substâncias proibidas. 

Condenado, Carneiro ficará sem receber salário e afastado do grupo do São Paulo durante todo o tempo da suspensão.

A WADA é rigorosa. Segundo o Código Mundial de Dopagem, que existe desde 2004, a pena prevista é de dois anos ou mais. E o doping é tratado no esporte como uma responsabilidade objetiva. Ou seja, independe de culpa. É o atleta que tem de provar que ingeriu a substância sem saber, e que não teria como imaginar ganho desportivo.

Já escrevi aqui sobre o caso de Paolo Guerrero e os desdobramentos jurídicos que o doping desencadeou.

Sindicatos e federações de atletas têm constantemente criticado o peso das punições no esporte relacionadas ao doping. Também criticam falta de critério das penas, com decisões diferentes em casos muito parecidos.

O consenso é de que o esporte pune doping com rigor elevado, maior até do que a legislação brasileira lida com quem cometeu crime. A explicação pode estar no fato de o doping ir na contramão de princípios caros ao esporte, como o da paridade de armas. A trapaça fere também o espírito do "jogo limpo".

Mesmo assim, é importante refletir. Não seria o caso de o doping involuntário ter um peso maior na decisão, diminuindo a pena do atleta? É sabido, dois anos na vida de um profissional do esporte representa uma perda gigante na carreira dele.

Entender que o atleta é considerado o principal responsável por tudo que seu corpo contém é fundamental. Cabe a ele manter-se informado de tudo que vai consumir e ingerir todos os dias. A lista de substâncias proibidas é pública. Dizer que não sabia, ou que o doping foi involuntário, independentemente da quantidade, não tem sido suficiente nos julgamentos de doping.

Os exemplos estão aí e não animam em nada a vida de Gonzalo Carneiro.

 

Sobre o autor

Andrei Kampff é jornalista formado pela PUC-RS e advogado pela UFRGS-RS. Pós-graduando em Direito Esportivo e conselheiro do Instituto Iberoamericano de Direito Desportivo e criador do portal Lei em Campo. Trabalha com esporte há 25 anos, tendo participado dos principais eventos esportivos do mundo e viajado por 32 países atrás de histórias espetaculares. É autor do livro “#Prass38”.

Sobre o blog

Não existe esporte sem regras. Entendê-las é fundamental para quem vive da prática esportiva, como também para quem comenta ou se encanta com ela. De uma maneira leve, sem perder o conteúdo indispensável, Andrei Kampff irá trazer neste espaço a palavra de especialistas sobre temas relevantes em que direito e esporte tabelam juntos.