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Lei em Campo

Mesmo em 2021, F1 fora de SP poderá ser questionada na Justiça

Andrei Kampff

13/05/2019 17h59

O presidente Jair Bolsonaro anunciou via Twitter: o Grande Prêmio do Brasil irá para o Rio de Janeiro.

Então, assim será!

Não é bem assim.

O poder público investiu 160 milhões de reais para reformar Interlagos. Tirar o GP de São Paulo poderia caracterizar má gestão de dinheiro público.

Isso poderia gerar uma série de ações contra o governo questionando a legalidade do novo acordo.

Qualquer cidadão também poderia entrar com uma ação popular.

O risco existe. E canetada ou tuitada deve levar isso em conta.

Quem conta é o Thiago Braga, que ouviu especialistas sobre o assunto.

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A novela envolvendo a realização do Grande Prêmio do Brasil está longe de acabar. Mesmo se a prova mudar de local apenas em 2021, será possível responsabilizar a União pela troca. Isso porque não existe no Brasil nenhum outro local que tenha condições de abrigar a categoria.

"Para a União, mesmo que ela não arque com nenhum valor, em termos de construção do Autódromo no Rio, incitar a mudança para lá implica em não valorizar os valores já gastos nas gestões anteriores. Não adianta não gastar nada daqui pra frente, se você inutilizar o que já foi gasto anos atrás. É dinheiro público já gasto que foi desvalorizado", esclarece a advogada Paula Salgado Brasil, especialista em Direito Constitucional.

O fato poderia inclusive gerar ação contra o uso de verbas públicas para construção de um novo autódromo ou contra ações mais incisivas da União, privilegiando o Rio em detrimento de São Paulo.

Hoje, um acordo entre o governo federal e a cidade de São Paulo é um dos entraves para que o Grande Prêmio do Brasil de Fórmula 1 troque a capital paulista pelo Rio de Janeiro em 2020. Segundo especialistas, o fato de haver um contrato, firmado em 2013, ainda sob a gestão Dilma Roussef (PT), que destinou R$ 160 milhões para que o autódromo de Interlagos fosse reformado, poderia gerar uma ação judicial, questionando a legalidade do novo acordo, por desprezar recursos públicos. Inclusive, a mudança poderia ser questionada por qualquer cidadão, via ação popular.

"No caso em questão, a União, o Estado de São Paulo e também o município fizeram largos investimentos para a adaptação do Autódromo de Interlagos, e incitar a competição entre os dois maiores municípios do Brasil, pode sinalizar uma ação não saudável para o equilíbrio do pacto federativo", prossegue Paula Salgado Brasil.

Na semana passada, o presidente Jair Bolsonaro (PSL) anunciou, via Twitter, que seria construído um autódromo no bairro de Deodoro, na capital fluminense, com investimento totalmente privado, que passaria a abrigar o GP Brasil de F1. "Com isso, milhares de empregos serão criados, beneficiando a economia e a população do estado", afirmou o presidente.

"Existem vários agentes possíveis nesse tipo de situação : uma ação popular, por causa do gasto público não eficiente; pelo Estado de São Paulo por conta do pacto federativo; e até por terceiros que prestam os serviços e perderão os serviços", afirma a advogada e professora de Direito Político e Econômico Mônica Sapucaia Machado.

Para o especialista em Direito Constitucionalista Adib Abdouni, São Paulo seria bastante prejudicada, o que seria o suficiente para uma ação questionando a mudança.

"Os vultosos recursos já aplicados na infraestrutura do aludido evento automobilístico, ambiciona o incremento paulatino da indústria do turismo local a resultar num aumento de arrecadação de tributos, cuja projeção arrecadatória restará prejudicada pela eventual solução de continuidade da prova na cidade de São Paulo", esclareceu.

Além do contrato entre União, estado de São Paulo e a capital paulista, os planos do Rio de Janeiro devem ser frustrados por outro vínculo, entre o município paulista e a organização do GP Brasil. Especialistas alertam que o governador João Dória (PSDB) tem razão ao alegar que seria uma quebra contratual.

"O município de São Paulo, se frustrada a realização do GP de Fórmula 1 para 2020, irá acionar a forma que tiver sido pactuada no contrato entre o GP F1 e o município. É certo que o município deve ter direito a ser indenizado, bem como deve estar prevista uma multa por rescisão unilateral do contrato antes do período determinado", analisa Paula Salgado Brasil.

A cidade de São Paulo e o grupo que administra a Fórmula 1 já têm reunião marcada para junho para acertar a renovação do vínculo entre as partes. Só depois disso que poderemos saber quais os próximos passos para o Grande Prêmio do Brasil.

Por Thiago Braga

 

Sobre o autor

Andrei Kampff é jornalista formado pela PUC-RS e advogado pela UFRGS-RS. Pós-graduando em Direito Esportivo e conselheiro do Instituto Iberoamericano de Direito Desportivo e criador do portal Lei em Campo. Trabalha com esporte há 25 anos, tendo participado dos principais eventos esportivos do mundo e viajado por 32 países atrás de histórias espetaculares. É autor do livro “#Prass38”.

Sobre o blog

Não existe esporte sem regras. Entendê-las é fundamental para quem vive da prática esportiva, como também para quem comenta ou se encanta com ela. De uma maneira leve, sem perder o conteúdo indispensável, Andrei Kampff irá trazer neste espaço a palavra de especialistas sobre temas relevantes em que direito e esporte tabelam juntos.