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Lei em Campo

Como uma amizade pode acabar com plano da Uefa de ter uma nova Champions

Andrei Kampff

20/05/2019 19h10

A discussão tem sido grande. O consenso parece distante. Como vai ser a nova Liga dos Campeões?

O lobby dos poderosos clubes da Europa briga por uma espécie de liga com ascenso e descenso, sem definição de acordo com os campeonatos nacionais. Os pequenos clubes querem algo mais democrático, priorizando conquistas nacionais e a chance de jogar entre os grandes. É a briga permanente do entretenimento/negócio contra a integração/inclusão que é genuína ao esporte.

E a conversa ganhou novos ingredientes quando se sabe que há uma relação íntima entre o presidente da Juventus e o presidente da Uefa. Como fica? Isso pode atrapalhar um acordo? Quem explica é o Thiago Braga, que traz o caso e a palavra de especialistas.

 


 

"À mulher de César não basta ser honesta, deve parecer honesta." Quem nunca ouviu a frase sobre o quão honesta precisam ser as relações de negócio? Um caso recente pode pôr a perder a estratégia da Uefa de ter uma Liga dos Campeões remodelada a partir de 2024: a amizade íntima entre o presidente da Uefa, Aleksander Ceferin, e o presidente da Juventus, Andrea Agnelli.

Na semana passada, vazou a iniciativa da Uefa de ter uma competição com acesso e rebaixamento, o que gerou polêmica por supostamente beneficiar os clubes mais importantes do continente, e sem que as equipes se classifiquem para a Champions por meio dos campeonatos nacionais.

Agnelli escolheu Ceferin como padrinho de sua filha de seis meses de idade, o que Ceferin definiu como uma honra que transcende o futebol. Agnelli também ajudou o presidente da Uefa a preparar o plano de reestruturação da Champions League.

"Eles podem ser amigos, desde que não haja favorecimento em torno dessa amizade", define o advogado Nilo Patussi, especialista em compliance.

Mas as acusações de favorecimento não param por aí. Vira e mexe Ceferin é alvo do que ele chama de "rumores lógicos e muito estúpidos", como andar em carros da marca Ferrari, da qual a família Agnelli é dona, ou fazer viagens no jatinho da família, ambas refutadas por Ceferin.

Outra relação, essa comercial, também tem reverberado contra Ceferin na Uefa. Recentemente o Paris Saint-Germain foi absolvido das acusações de burlar o fair play financeiro. O presidente do PSG, Nasser el-Khelaifi, faz parte do comitê executivo da Uefa e ao mesmo tempo comanda a beIN Sport, canal de TV que adquiriu direitos de transmissão de torneios da Uefa.

"Se houver controles rigorosos de ambas as instituições, são ferramentas necessárias para que o favorecimento não aconteça. Um dos controles mais utilizados para que esse favorecimento não aconteça é a due diligence, que é investigar e apurar quem são os envolvidos em negociações e parcerias entre as instituições. Havendo risco de ter um negócio antiético em razão desse vínculo, o compliance inviabiliza o negócio", finaliza Patussi.

Por Thiago Braga

Sobre o autor

Andrei Kampff é jornalista formado pela PUC-RS e advogado pela UFRGS-RS. Pós-graduando em Direito Esportivo e conselheiro do Instituto Iberoamericano de Direito Desportivo e criador do portal Lei em Campo. Trabalha com esporte há 25 anos, tendo participado dos principais eventos esportivos do mundo e viajado por 32 países atrás de histórias espetaculares. É autor do livro “#Prass38”.

Sobre o blog

Não existe esporte sem regras. Entendê-las é fundamental para quem vive da prática esportiva, como também para quem comenta ou se encanta com ela. De uma maneira leve, sem perder o conteúdo indispensável, Andrei Kampff irá trazer neste espaço a palavra de especialistas sobre temas relevantes em que direito e esporte tabelam juntos.