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Lei em Campo

Esporte das Letras traz Romário em versão explosiva

Andrei Kampff

31/05/2019 14h00

Quatro anos do maior escândalo do futebol.

No dia 27 de maio de 2015, o FBI entrou em um hotel na Suíça onde estavam as principais lideranças do esporte no mundo. Catorze dirigentes foram presos naquela manhã. Um tsunami investigativo e jurídico que derrubou a mais alta cúpula do futebol mundial e desencadeou uma série de mudanças no esporte. Muitas, importante frisar, ainda caminham a passos lentos.

É verdade que discursos por transparência e ética têm sido mais frequentes na cúpula do futebol mundial e por aqui. Já falamos sobre o que disse o novo presidente da CBF, Rogério Caboclo. Mas do que se diz para o que se faz sempre existem muitas histórias.

Investir em planos de integridade, com conselhos independentes e órgãos fiscalizadores autônomos, seria mais do que discurso, seria uma atitude verdadeiramente comprometida com ética e transparência.

Existe um projeto de lei que tramita do Senado, o PL 68, que tem relatoria do professor de direito e colunista do Lei em Campo Wladimyr Camargos, que seria revolucionário para a gestão esportiva no Brasil. Entre outras coisas, ele tipifica o crime de corrupção privada no Brasil. Roubou de clube ou entidade esportiva, vai preso.

Ou seja, existem caminhos, na esfera esportiva e estatal: planos de integridade e PL 68. Com eles, ser transparente e ético deixa de ser apenas uma necessidade moral de nossos dirigentes – passa a ser também uma obrigação legal.

Afinal, o esporte não pode ser território livre para sacanagem.

E Romário, hoje senador, já denunciou vários dos problemas que prejudicaram nosso futebol. E colocou isso num livro. Nele o autor busca bibliografias necessárias para entender os bastidores da gestão esportiva para fazer a leitura de uma realidade dura e revoltante.

Incansável na busca por literatura em que direito e esporte se relacionam, o Alexandre Barreto, colunista do Lei em Campo,  hoje nos traz a crítica de "Um olho na bola, outro no cartola: o crime organizado no futebol brasileiro". 

Leiam. A crítica do Alexandre e o livro de Romário.


Livro da semana: "Um olho na bola, outro no cartola: o crime organizado no futebol brasileiro"

O Andrei Kampff lembrou bem, aqui no Lei em Campo, nesta semana, os quatro anos do maior escândalo do futebol – o Fifagate.

Mas as tramoias vêm de longe, e Romário, o ex-craque da seleção brasileira, já colocou a boca no trombone faz bastante tempo. Recentemente ele lançou um livro indispensável pra essa era de escândalos, corrupção e crimes no esporte.

Em "Um olho na bola, outro no cartola: o crime organizado no futebol brasileiro", o baixinho dá tiro pra tudo que é lado. Começa com Ricardo Teixeira, em 1989, que renuncia às verbas públicas que subvencionavam o futebol para fugir da fiscalização oficial, "seguindo os passos de seu ex-sogro, João Havelange, na presidência da FIFA". E lembra: "Sem fiscalização externa, porque é uma instituição privada, os contratos com os patrocinadores escondem realidades que ainda se desconhecem".

Outro alvo constante de Romário no livro é Renan Calheiros, citando a proximidade deste com Vandenbergue Machado, funcionário aposentado do Senado e "lobista da CBF desde o final do século passado". Calheiros aparece mais à frente, em outro capítulo, acusado de amorcegar a CPI da CBF/Nike.

Romário lembra outra figura que já denunciou bastante as maracutaias no futebol: Andrew Jennings, autor de "Jogo sujo: o lado secreto da FIFA", que já foi indicado aqui no Esporte das Letras. O autor foi inclusive ouvido na CPI em questão. Nosso ex-goleador menciona também o livro "O lado sujo do futebol", que ele, Romário, prefaciou (e que vamos ter de resenhar aqui no Esporte das Letras, por óbvio!).

O livro é formado por capítulos bem curtos, sucintos, proporcionando uma leitura ágil mas nem por isso superficial. Sobra pra Del Nero (como não?!), Romero Jucá, não poupando nunca a CBF e o STJD – este, acusado de relações íntimas demais com a Confederação. E o artilheiro aproveita para nos indicar outro livro ainda, "Os descaminhos do futebol" (bastante difícil de encontrar), em que essa relação é explicitada: "Da forma como está, essa justiça (desportiva) tornou-se uma anomalia judiciária, que homologa decisões dos cartolas. É impensável, por exemplo, ganhar alguma ação contra a CBF na Justiça Desportiva".

Mais pro fim, Romário ainda nos brinda com esquemas didaticamente desenhados que destrincham os mecanismos de corrupção envolvendo a CBF e contratos dos mais diversos: de fornecimento de bens e serviços, de patrocínio, de marketing esportivo, de amistosos da Seleção. A Folha de S.Paulo tem trazido diversas matérias sobre o assunto, como "Vencedor de licitação da CBF possui sede em paraíso fiscal", "Vencedora de licitação suspeita da CBF tem 7 CNPJs com sócios ocultos", entre tantas outras. Pelo menos nosso ex-matador da grande área não está sozinho nessa luta por moralidade!

Mais um gol de Romário, dessa vez pra ler, não pra assistir.

Um olho da bola, outro no cartola: o crime organizado no futebol brasileiro
Romário
Editora Planeta
239 páginas

Sobre o autor

Andrei Kampff é jornalista formado pela PUC-RS e advogado pela UFRGS-RS. Pós-graduando em Direito Esportivo e conselheiro do Instituto Iberoamericano de Direito Desportivo e criador do portal Lei em Campo. Trabalha com esporte há 25 anos, tendo participado dos principais eventos esportivos do mundo e viajado por 32 países atrás de histórias espetaculares. É autor do livro “#Prass38”.

Sobre o blog

Não existe esporte sem regras. Entendê-las é fundamental para quem vive da prática esportiva, como também para quem comenta ou se encanta com ela. De uma maneira leve, sem perder o conteúdo indispensável, Andrei Kampff irá trazer neste espaço a palavra de especialistas sobre temas relevantes em que direito e esporte tabelam juntos.