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Lei em Campo

Futebol feminino: caminho por igualdade ainda é longo. No Brasil e no mundo

Andrei Kampff

06/06/2019 08h35

Copa do Mundo de futebol feminino, agora vai!

Nunca se falou, se mostrou tanto o futebol praticado pelas mulheres quanto agora.

Isso pode dar esperança, mas jamais certeza de que a modalidade está tomando um rumo diferente.

A equidade ainda anda distante. Direitos desrespeitados, diferença absurda de premiação, preconceito por causa da gravidez.

E não é só no Brasil. É no mundo.

Esse é o assunto de Luiz Costa, advogado especializado em direito esportivo em Londres e colunista do Lei em Campo.


 

Que momento fantástico vive o futebol feminino! Muitos canais de televisão, do Brasil e do mundo, transmitirão o Mundial de futebol feminino que começa amanhã.

Nunca se falou tanto sobre o futebol feminino. Mas será mesmo?

Nesta semana a BBC publicou uma reportagem sobre uma partida da seleção inglesa de futebol feminino (as leoas, "lionesses", como são chamadas) contra o México, em agosto de 1971, pelo Mundial de futebol. Estádio Azteca lotado, com cerca de 90 mil torcedores. Clima e número de torcedores completamente diferentes do que as leoas estavam acostumadas naquela época. Havia pouco tempo desde a liberação da proibição da prática do esporte por mulheres, proibição essa que durou cerca de 50 anos. Assim, na Inglaterra, naquela época, as atletas jogavam em parques para uma plateia muito pequena.

No México, as leoas precisaram de escolta da polícia para que seu ônibus pudesse chegar ao estádio. Status de celebridade.

Contra as donas da casa, pela segunda partida da competição (sendo que a primeira partida havia acontecido menos de 24 horas antes), o plantel das leoas contava com várias adolescentes. Algumas nunca tinham viajado para o exterior.  A capitã das leoas jogou com um osso do pé fraturado. Como se já não bastassem os desafios da competição, imaginem a pressão de ter de voltar para casa e "enfrentar" os desafios que o futebol feminino na Inglaterra vivenciava.

As leoas perderam o jogo por 3 a 2. Mas, como dizia uma cartolina de um torcedor mexicano na porta do hotel das leoas: Inglaterra, você perdeu o jogo, mas ganhou o coração do México! Claramente o resultado do jogo não foi o mais importante.

A FIFA reconhece que o primeiro Mundial oficial aconteceu na China, em 1991. Que pena!

Há muito escopo para a melhor profissionalização e equidade no futebol feminino. Em todo o mundo. Há países, como Argentina e Uruguai, onde jogadoras de futebol feminino nem sequer recebem salário (ou passaram a receber muito recentemente). Há questões controversas ainda a serem estabelecidas, tais como direitos trabalhistas (sobretudo quanto à gravidez de atletas), equiparação de salário e prêmios, apoio de torcida, dirigentes e imprensa (apesar do recente interesse de alguns canais). Esperamos que isso aconteça muito em breve.

Enquanto isso, torcemos para a nossa Seleção. Que façam um bom Mundial! Que honrem a camisa canarinho!

 

Sobre o autor

Andrei Kampff é jornalista formado pela PUC-RS e advogado pela UFRGS-RS. Pós-graduando em Direito Esportivo e conselheiro do Instituto Iberoamericano de Direito Desportivo e criador do portal Lei em Campo. Trabalha com esporte há 25 anos, tendo participado dos principais eventos esportivos do mundo e viajado por 32 países atrás de histórias espetaculares. É autor do livro “#Prass38”.

Sobre o blog

Não existe esporte sem regras. Entendê-las é fundamental para quem vive da prática esportiva, como também para quem comenta ou se encanta com ela. De uma maneira leve, sem perder o conteúdo indispensável, Andrei Kampff irá trazer neste espaço a palavra de especialistas sobre temas relevantes em que direito e esporte tabelam juntos.