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Lei em Campo

Tecnologia e os impedimentos milimétricos

Andrei Kampff

10/06/2019 06h00

Queiram ou não, mas saibam: a interpretação faz parte do jogo. 

O árbitro tem poderes para tomar decisões segundo sua própria convicção. Não adianta digitar caixa-alta nas redes sociais contra isso. Esse poder vem das regras do esporte. Regra 5. Além de entender isso, é necessário aceitar: no futebol há espaço para interpretação. Portanto, com ou sem VAR, as discussões e as polêmicas vão continuar.

Até no impedimento cabe interpretação. Um árbitro pode entender que um jogador em impedimento participou da jogada mesmo sem tocar na bola e anular e um lance, ou achar que ele não teve participação na jogada, o que descaracteriza o impedimento.

Mas o fato hoje aqui sobre impedimento não vem de interpretação, vem de centímetros.

Na Copa do Mundo da França, lances capitais foram definidos por uma distância mínima, só capturada pela potente tecnologia.

A tecnologia está aí, a serviço do jogo.

É o que conta Renata Ruel, comentarista dos canais ESPN e colunista do Lei em Campo.


 

A Copa do Mundo Feminina começou, e pela primeira vez com o VAR (Video Assistent Referee).

No Brasil essa tecnologia tem sido criticada por alguns, principalmente quando usada em lances interpretativos, que dividem opiniões.

Mas lances de impedimentos, na maioria das vezes, são exatos. Dessa forma, não há a necessidade sequer de o árbitro ser chamado para a revisão, acatando desde logo a decisão dada pelo VAR. 

Na abertura da Copa do Mundo, França x Coreia do Sul, o VAR anulou o gol que seria o segundo das donas da casa (diga-se de passagem, um belo gol), e que foi dado pela arbitragem em campo.

Um lance extremamente difícil e milimétrico, que no campo se torna praticamente impossível ser visto a olho nu. Percebe-se a dificuldade do lance em campo pela imagem anterior.

Outro jogo da Copa do Mundo Feminina que teve um gol confirmado pela arbitragem no campo, mas invalidado pelo VAR, foi entre Austrália e Itália.

Lance em velocidade, ajustado, com distância significativa entre as jogadoras de defensa e ataque, outro lance de grande dificuldade para a arbitragem em campo.

Ou seja, só na primeira rodada da Copa, já foram dois gols anulados pela VAR de forma correta, porém, mostrando a gigantesca dificuldade dos lances para quem está bandeirando em campo.

Lances nos quais somente a tecnologia poderia intervir de forma correta para a legitimação da jogada, o que exime os(as) assistentes de erros.

E se não houvesse o VAR nesses jogos? Os gols seriam dados, e a arbitragem sairia ilesa, pela complexidade das jogadas.

Quantas derrotas na história poderiam ser evitadas com o uso do VAR, em que os milímetros, impossíveis de ver, mesmo aos olhos mais treinados, ou a visão encoberta do árbitro, impediram de visualizar ou ter certeza de lances capitais em jogos decisivos e importantes? Vide a inesquecível "mão de Deus" de Maradona.

Sobre o autor

Andrei Kampff é jornalista formado pela PUC-RS e advogado pela UFRGS-RS. Pós-graduando em Direito Esportivo e conselheiro do Instituto Iberoamericano de Direito Desportivo e criador do portal Lei em Campo. Trabalha com esporte há 25 anos, tendo participado dos principais eventos esportivos do mundo e viajado por 32 países atrás de histórias espetaculares. É autor do livro “#Prass38”.

Sobre o blog

Não existe esporte sem regras. Entendê-las é fundamental para quem vive da prática esportiva, como também para quem comenta ou se encanta com ela. De uma maneira leve, sem perder o conteúdo indispensável, Andrei Kampff irá trazer neste espaço a palavra de especialistas sobre temas relevantes em que direito e esporte tabelam juntos.