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Lei em Campo

Esporte das Letras e o modelo Premier League

Andrei Kampff

14/06/2019 17h00

A discussão é antiga, mas ainda atual.

O futebol brasileiro não seria melhor se a CBF cuidasse apenas das seleções e deixasse ligas organizando os campeonatos?

O Brasil viveu uma experiência que poderia servir de referência para o mundo há mais de 30 anos, com a Copa União e o início do Clube dos 13. Mas o projeto de independência do futebol foi implodido pelos próprios clubes, que racharam num processo de liberação de direitos de transmissão conduzido pela Globo. Mas isso é outro assunto.

O fato é que a ideia de 1987 do Brasil não vingou, e cinco anos depois os clubes da Inglaterra se organizaram numa liga de futebol que rompeu com a Football Association, a CBF de lá.

A criação da Premier League revolucionou o futebol inglês, e essa história está contada num livro muito legal, The Club, que o Alexandre Barreto, colunista do Lei em Campo, conta agora em detalhes.

 


 

O livro desta semana embaraça um pouco a tabelinha entre direito e esporte, mas não deixa o primeiro totalmente de lado. Afinal, traz acordos, bastidores, negociações e informações sobre a criação da Premier League, a liga de futebol inglesa.

Ela foi fruto dos esforços, ao longo de mais de cinco anos, de dirigentes do Arsenal, Liverpool, Manchester United, Tottenham e Everton, junto com a ITV. Aliás, a parte da televisão é um capítulo fundamental no sucesso da Premier League, além de trazer histórias interessantes.

Lá atrás, antes do surgimento da liga, questões envolvendo direitos de transmissão fizeram com que, em uma temporada da década de 1980, nem os resultados fossem informados na TV – muito menos lances e os gols da rodada, por óbvio. Com a criação da Premier League, inovou-se nos direitos de transmissão – aliás, o que eles fizeram lá em 1992 foi seguido somente agora por Globo e Esporte Interativo para o Brasileirão deste ano…

Ainda sobre a TV, o torneio revolucionou a transmissão: foram adotadas câmeras espalhadas por diferentes pontos, para que os replays pudessem ser mostrados por vários ângulos diferentes. Além disso, começou-se a usar o marcador do tempo de jogo, bem como o placar, exposto sempre na tela – o que de início enfureceu os espectadores ingleses.

A Premier League também se inspirou na NFL – a igualmente rica liga de futebol americano dos Estados Unidos –, tanto como negócio como quanto espetáculo. E deu certo!

Na temporada 2016/17, os vinte clubes da Premier League contribuíram com mais de R$ 37 bilhões para o PIB do Reino Unido. Os jogos são hoje assistidos em 185 países, com audiência na casa dos bilhões.

Um dos aspectos marcantes da criação da liga, que consistiu em uma ruptura com a Football League, foi que as equipes passaram a ser responsáveis pela organização do torneio – e a lucrar com isso.

"The Club" traz ainda muito mais informações e curiosidades, e cumpre o que promete no título: conta em detalhes como a Premier League se tornou a mais rica e o mais disruptivo negócio no meio esportivo mundial.


The Club: How the English Premier League Became the Wildest, Richest, Most Disruptive Force in Sports
Joshua Robinson e Jonathan Clegg
Editora Houghton Mifflin Harcourt
368 páginas

Sobre o autor

Andrei Kampff é jornalista formado pela PUC-RS e advogado pela UFRGS-RS. Pós-graduando em Direito Esportivo e conselheiro do Instituto Iberoamericano de Direito Desportivo e criador do portal Lei em Campo. Trabalha com esporte há 25 anos, tendo participado dos principais eventos esportivos do mundo e viajado por 32 países atrás de histórias espetaculares. É autor do livro “#Prass38”.

Sobre o blog

Não existe esporte sem regras. Entendê-las é fundamental para quem vive da prática esportiva, como também para quem comenta ou se encanta com ela. De uma maneira leve, sem perder o conteúdo indispensável, Andrei Kampff irá trazer neste espaço a palavra de especialistas sobre temas relevantes em que direito e esporte tabelam juntos.