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Lei em Campo

Futebol brasileiro sofre com déficit de convicção

Andrei Kampff

02/07/2019 16h44

O futebol nacional sofre com um déficit histórico: falta de convicção.

Ainda somos reféns de resultados. Não se trabalha com planejamento e metas, que devem ser, sim, cobradas, mas no final de um trabalho. E quem mais sofre com isso são os técnicos. Todo mundo fala que é preciso tempo para um técnico implementar um modelo de jogo em um time. Mas pouco diretores têm coragem de respeitar esse tempo.

Gestão ganha campeonato. E gestão responsável, profissional, estuda muito antes de contratar, e acredita na escolha que faz.

Noventa minutos não podem,  jamais, determinar a continuidade ou não de um trabalho. Nem na derrota, nem na vitória.

A análise só pode ser feita depois de uma longa sequência. Ninguém precisa ser refém de números, mas seria sempre interessante dar uma olhada neles na hora de fazer qualquer avaliação. E esses números só devem ser analisados depois de uma longa sequência de jogos.

O Nilo Patussi, advogado especializado em gestão e colunista do Lei em Campo, fala sobre a importância do planejamento no futebol.

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Esqueça o jogo entre Brasil e Argentina, o que importa é a continuidade de um projeto que vem dando certo

 

Há três anos à frente da seleção brasileira, o técnico Tite chega, neste momento da competição, com números invejáveis: são 83,33% de aproveitamento, 31 vitórias, 7 empates e apenas 2 derrotas, e um saldo positivo de 78 gols (fez 88 e sofreu apenas 10).

Apesar de a mídia aplaudir o planejamento de longo prazo da equipe do Liverpool, ao manter o técnico Klopp por muitos anos sem títulos, iniciou-se recentemente um movimento nos jornais e redes sociais para questionar se o técnico da seleção brasileira deveria ou não se manter no cargo. Além dele, a comissão técnica também foi questionada se seria competente ou não. Infelizmente, essa movimentação ocorreu sem que a equipe tivesse qualquer sinal de piora ou derrota.

Com contrato até 2022, Tite tem sido uma aposta na CBF para amadurecer um problema que o futebol nacional vive, o troca-troca de técnicos de futebol. Isso faz parte de um planejamento estratégico de alguns clubes que apostaram e que tem dado certo, exemplo do Liverpool.

Planejamento estratégico é uma competência que, em conjunto com outros mecanismos, elabora e traça os caminhos que uma empresa, no longo prazo, deve alcançar. Com isso, a instituição e os responsáveis pelos projetos alinham metas de acordo com suas missões, visões e valores.

Outro ponto crucial para o bom resultado do projeto é executá-lo com boa gestão de pessoas, rotinas, atribuições e responsabilidades bem definidas.

Independentemente do resultado de um dos principais clássicos do mundo do futebol, Brasil x Argentina, o que não pode acontecer é a quebra da confiança e da continuidade de um trabalho que já dura três anos, que tem se mostrado muito satisfatório e visa algo maior, que é a Copa do Mundo de 2022.

Você demitiria um vendedor que, em 40 reuniões, conseguiu vender em 31 delas e perdeu apenas duas?

Os planejamentos estratégicos visam sempre objetivos grandes, e dar importância ao pequeno, neste momento, seria descartar os três anos já investidos nos projetos de longo prazo. Será hora de colocar em dúvidas o projeto Qatar?

Sobre o autor

Andrei Kampff é jornalista formado pela PUC-RS e advogado pela UFRGS-RS. Pós-graduando em Direito Esportivo e conselheiro do Instituto Iberoamericano de Direito Desportivo e criador do portal Lei em Campo. Trabalha com esporte há 25 anos, tendo participado dos principais eventos esportivos do mundo e viajado por 32 países atrás de histórias espetaculares. É autor do livro “#Prass38”.

Sobre o blog

Não existe esporte sem regras. Entendê-las é fundamental para quem vive da prática esportiva, como também para quem comenta ou se encanta com ela. De uma maneira leve, sem perder o conteúdo indispensável, Andrei Kampff irá trazer neste espaço a palavra de especialistas sobre temas relevantes em que direito e esporte tabelam juntos.