Eduardo Galeano e a importância de o atleta cuidar do seu trabalho
Eduardo Galeano se tornou mundialmente conhecido pelo vertiginoso "As Veias Abertas da América Latina". No livro o escritor uruguaio fez uma análise da história da América Latina sob o ponto de vista da exploração econômica e da dominação política, desde a colonização europeia até os dias do lançamento da obra, 1971. Nunca deixou de ser atual.
Um retrato duro e necessário sobre nossa origem e destino.
Preso pela ditadura militar uruguaia, nunca abandonou a crença da luta por meio dos livros. E entre tantas aventuras – e desventuras – nunca deixou de alimentar uma paixão.
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É dele o espetacular "Futebol ao Sol e à Sombra", um livro sobre futebol até para quem não gosta do jogo. Esse Galeano de muitas – e interessantes – linhas vai ajudar a Danielle Maiolini, advogada especializada em direito esportivo e colunista do Lei em Campo, a falar de algo importante: o trabalhador do esporte precisa cuidar do seu trabalho.
Os donos da regra
Corre, ofegando, pela lateral. De um lado o esperam os céus da glória; do outro, os abismos da ruína. O bairro tem inveja dele: o jogador profissional salvou-se da fábrica ou do escritório, tem quem pague para que ele se divirta, ganhou na loteria. Embora tenha que suar como um regador, sem direito a se cansar nem a se enganar, aparece nos jornais e na televisão, as rádios falam seu nome, as mulheres suspiram por ele e os meninos querem imitá-lo. Mas ele, que tinha começado jogando pelo prazer de jogar, nas ruas de terra dos subúrbios, agora joga nos estádios pelo dever de trabalhar e tem a obrigação de ganhar ou ganhar.
O jogador do Galeano de 95, poderia ser da rodada passada. De próximo que está do nosso lazer, pensamos que o atleta mais se diverte do que trabalha. E porque não trabalha, não há que se envolver com os assuntos aborrecidos ao redor do campo. Jornada, intervalos, janelas, periodização de treinamento, opções de tratamento, seguros e sabe-se lá. Que não se preocupem. Das regras e procedimentos, falamos nós. Pensamos nós. Sobre como será, pra eles.
Se há tantos algos que dificultam a participação e o engajamento de atletas na construção do próprio dia a dia, talvez valha a pena abordar este primeiro ponto: mantemos a linguagem longe. Inacessível. Cheia de termos e imbróglios. Jurídicos e regulamentares. Pra que nos entendamos, sem eles.
Se é proposital não sei, mas é o caso de se reavaliar. Simplificar. Convidar. Construir junto. Há algum tempo, andaram fazendo isso fora do futebol.
Desde 2009, o Comitê Olímpico do Brasil começou tímido e foi melhorando. Criaram a Comissão de Atletas, que tem ganhado cada vez mais espaço. A missão? Garantir que o ponto de vista de quem coloca a mão (ou os pés) na massa permaneça no centro das ações do Movimento Olímpico do Brasil. Unificando vozes, e colocando elas pra falar.
Hoje os atletas adquiriram o direito, por estatuto, a 1/3 dos votos nas assembleias e a participação no Conselho de Administração do Comitê Olímpico do Brasil. Para o ciclo Tóquio 2020, foram 19 eleitos, representando 16 modalidades diferentes. Entre quem ainda joga e quem já parou, todos trabalham em conjunto com muita gente interessada em um esporte democrático e transparente.
No futebol, a existência formal de entidades que representem atletas não chegou a consolidar o protagonismo de quem joga. Quem sabe seja essa uma possibilidade.
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