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Lei em Campo

Flamengo e Grêmio entram em campo mostrando a força que tem uma boa gestão

Andrei Kampff

23/10/2019 04h00

Jorge Jesus e Renato Portaluppi têm uma grande responsabilidade pelo futebol que o os semifinalistas têm apresentado ao longo da temporada. Mas o trabalho deles também é facilitado por algo ainda raro no nosso futebol: planejamento gerencial que modernizou a administração dos clubes, e que ajuda no resultado de campo.

Uma gestão eficiente independe da natureza jurídica que a empresa carrega. No esporte também é assim.

Muita gente ainda acha e grita por aí que para o futebol brasileiro se "modernizar" basta transformar a natureza jurídica, jogar pó de pirilimpimpim e pronto, teremos um clube-empresa saudável!

Não, não é bem assim. Temos vários exemplos de clubes, no Brasil e no exterior, que fizeram essa migração e vivem grandes problemas.  Mas também são vários os que seguem como associações e estão em situação pré-falimentar. "Ah, clube não entra em falência"! Também não é assim, pode quebrar, sim. É mais difícil, mas acontece.

É sempre mais fácil em um modelo empresarial se tomar o caminho para a profissionalização, ja que ele é mais pacífico. Mas também é verdade que temos clubes tradicionais que estão dando exemplos de boa gestão, como BahiaAthletico, Palmeiras...  e Grêmio e Flamengo. O fato irrefutável é: se a gestão for ruim, ele não funcionará nem como associação, nem como empresa.

A verdade é que os clubes precisam de uma gestão séria, comprometida com transparência, ética, que implemente mecanismos de conformidade, que trabalhe entendendo as leis e regulamentos,  tendo profissionais qualificados em cada área. E isso pode ser feito independentemente da natureza jurídica que ele adotar. Cada clube tem uma realidade, e o modelo jurídico também precisa caminhar de acordo com os fatos, as vontades e desafios que serão colocados.

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E um dos segredos do sucesso dos times que brigam por uma vaga na final da Libertadores está nesse trabalho que foi construído com o tempo, que começou com Eduardo Bandeira no time carioca e com o ainda presidente Romildo Bolzan no time gaúcho, e que gerará frutos por anos.

E um dos elementos importantes para isso é o planejamento estratégico.

É sobre o que escreve Nilo Patussi, advogado especializado em gestão esportiva e colunista do Lei em Campo.

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Planejamento estratégico e o sucesso do Flamengo

 

O Flamengo vem dando uma aula de futebol dentro e fora de campo. O clube que nos últimos anos se reestruturou financeiramente conseguiu beirar a excelência também.  Mas isso, como sabemos não é do dia para anoite, mudanças que vem desde 2013 foram importantes para que o clube rubro-negro pudesse fazer essa farta colheita de hoje.

Mas o que o Flamengo fez em 2013 que possibilitou que o clube se tornasse essa potência financeira e de futebol que é hoje? Planejamento estratégico.

Mesmo convivendo com uma tragédia mal administrada e, ainda, mal resolvida, o clube tem conseguida cada vez mais visibilidade, vitórias e uma crescente valorização da marca.

Demorou, mas o futebol brasileiro está começando a se dar conta de que gestão profissional dá título e faz com que sua marca não pare de valorizar.

O planejamento estratégico de uma empresa, instituição ou até mesmo de um clube de futebol é o norte para que todas as tomadas de decisões sejam tomadas com o foco determinado para a estratégia de negócio.

Com origem militar, estratégia é uma forma de liderar, comandar uma tropa na direção dos seus objetivos, sempre focando no resultado da operação. Com isso, planejar a estratégia é desenhar os passos a serem tomados para que o objetivo seja alcançado, para que a estratégia seja de sucesso.

Na gestão o planejamento estratégico tem o mesmo objetivo, desenhar quais são os objetivos da instituição de médio e longo prazo e, através desse planejamento, tomar atitudes certeiras para que cada passo que seja dado pela administração seja no sentido de alcançar o seu objetivo.

Os planejamentos estratégicos de um clube podem ser vários, sejam eles quitar débitos trabalhistas, fiscais, legais como também internacionalizar a marca do clube, construir um estádio, um centro de treinamento, ganhar uma competição internacional, etc.

O grande problema que vimos no futebol brasileiro é a falta continuidade. O clube que está conseguindo se reestruturar e colocar as contas em dia mas não está com um time muito vitorioso já começa a sofrer pressão e, provavelmente não conseguiria uma reeleição para continuar com a estratégia, ou, um que ganha jogos, encanta a torcida, mas que, internamente, sofre com corrupção, salários atrasados, dividas crescentes, etc. Certamente quando o problema estourar, a pressão será contraria, e o foco da instituição passara, de uma hora para a outra, em melhorar as contas e a reputação da instituição.

Com isso, fica claro que definir um planejamento estratégico não é tarefa simples, desenhar o futuro de um clube e seguir, mesmo com pressões contraria de torcida, oposições políticas, mídia, não é para qualquer um. Mas os bons exemplos que vêm surgindo no Brasil estão se tornando inspiração para que as gestões profissionais e mais sérias surjam cada vez mais no país do futebol.

Sobre o autor

Andrei Kampff é jornalista formado pela PUC-RS e advogado pela UFRGS-RS. Pós-graduando em Direito Esportivo e conselheiro do Instituto Iberoamericano de Direito Desportivo e criador do portal Lei em Campo. Trabalha com esporte há 25 anos, tendo participado dos principais eventos esportivos do mundo e viajado por 32 países atrás de histórias espetaculares. É autor do livro “#Prass38”.

Sobre o blog

Não existe esporte sem regras. Entendê-las é fundamental para quem vive da prática esportiva, como também para quem comenta ou se encanta com ela. De uma maneira leve, sem perder o conteúdo indispensável, Andrei Kampff irá trazer neste espaço a palavra de especialistas sobre temas relevantes em que direito e esporte tabelam juntos.