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Lei em Campo

Crimes de ódio no futebol crescem na Inglaterra 66%. Um problema de todos

Andrei Kampff

21/11/2019 19h50

Crimes de ódio são queles motivados por racismo, por homofobia, ou. por discriminação religiosa, por exemplo.

Ele é um problema social, e por consequência passa a ser também um problema do mundo esportivo.

Um levantamento da inglesa BBC é mais um a confirmar o que temos dito aqui, e que todos estão testemunhando nos últimos tempos: o movimento esportivo não consegue combater esse problema. E, pior, ele tem aumentado.

A FIFA já se posicionou com relação ao absurdo, exigindo punição. É o que mostra novo Código Disciplinar da entidade, uma espécie de lei do futebol.

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O Código, apesar de mais enxuto, está mais completo, e moderno. Ele reforça uma preocupação necessária do movimento esportivo, o combate a todo tipo de preconceito. Historicamente o esporte  ajudou na luta contra o racismo, contra a discriminação aos mais pobres, até na abertura democrática no Brasil durante os anos da ditadura. Devido à força que o esporte tem como instrumento de transformações, não podem existir fronteiras entre ele e causas importantes para a sociedade.

A sociedade evolui, e o esporte não pode ficar preso a costumes discriminatórios. Ele precisa evoluir e integrar, aproximar e acolher a todos. Mas o problema ainda é gigante, e o movimento esportivo precisa encontrar outras maneiras de combate-lo.

É o que conta Luiz GG Costa, advogado em Londres e colunista do Lei em Campo.

 


 

A BBC divulgou essa semana que houve um aumento de 66% nos crimes de ódio relatados em jogos profissionais de futebol na Inglaterra e no País de Gales na última temporada, segundo dados do Ministério do Interior.

Durante as últimas duas temporadas, de 323 notificações, 230 foram relacionadas ao racismo. O número total de casos relatados/notificados chegaram a 194 na temporada passada, a de 2018/2019.

O clube que mais teve incidentes reportados foi o Burnley, com 12 incidentes no total. No entanto, o clube se defende ao afirmar que esses dados refletem sua abordagem proativa de autopoliciamento e uma "política de tolerância zero a qualquer forma de discriminação". Sunderland ficou em segundo, com 11 casos relatados, enquanto Manchester United teve 10 casos relatados.

Segundo a BBC, os dados foram coletados por meio de uma solicitação de divulgação de dados diretamente endereçada ao ministério feita pela associação de imprensa inglesa. Porém, vale reparar que tais dados não especificam se as queixas foram feitas pelos "donos" da casa ou pela equipe visitante.

Em resposta a esses dados, a instituição de caridade Kick it Out pronunciou que o aumento da discriminação é um "desafio para todos os clubes, em todos os níveis, em todo o país". Ademais, disseram que "mecanismos de denúncia, como procedimentos de clube e nosso aplicativo Kick It Out, bem como as comunicações em torno deles, estão melhorando gradualmente. Portanto, é esperado um aumento nos números de denúncia", afirmou a instituição em comunicado.Fora das quadras e campos, incidentes relacionados a discriminação por racismo ou religião aumentaram nos últimos anos aqui na Europa. No Reino Unido, por exemplo, após o referendo de 2016 em que foi decido o Brexit, o número de incidentes relacionados a racismo com certeza aumentou. Não há uma semana sem lermos alguma matéria relacionada ao tema. Assim, não é de se espantar termos tal situação também no esporte.

Na Inglaterra, quando um incidente de racismo acontece, ele pode servir de agravante da pena já estabelecida pela conduta criminosa do ato em si. Por exemplo, quando alguém agride uma pessoa, o agressor poderá ser condenado pela agressão e, caso a agressão tenha sido motivada por racismo, isto pode agravar a pena. Estes são chamados de "crimes de ódio", quando motivados por racismo ou discriminação religiosa, por exemplo.

 Raça, de acordo com a legislação inglesa, significa pertencer a um grupo de pessoas que podem ser identificadas por sua raça, cor, nacionalidade ou origem étnica.

 

Sobre o autor

Andrei Kampff é jornalista formado pela PUC-RS e advogado pela UFRGS-RS. Pós-graduando em Direito Esportivo e conselheiro do Instituto Iberoamericano de Direito Desportivo e criador do portal Lei em Campo. Trabalha com esporte há 25 anos, tendo participado dos principais eventos esportivos do mundo e viajado por 32 países atrás de histórias espetaculares. É autor do livro “#Prass38”.

Sobre o blog

Não existe esporte sem regras. Entendê-las é fundamental para quem vive da prática esportiva, como também para quem comenta ou se encanta com ela. De uma maneira leve, sem perder o conteúdo indispensável, Andrei Kampff irá trazer neste espaço a palavra de especialistas sobre temas relevantes em que direito e esporte tabelam juntos.