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Lei em Campo

Árbitra é agredida no futebol. É preciso respeito, e garantir direitos

Andrei Kampff

27/11/2019 16h49

A violência é um problema social, e o Brasil convive ela em proporções absurdas. Em todas as áreas, inclusive no futebol.

E uma das principais vítimas desse comportamento criminosos é o árbitro. Ele sofre com a. insegurança, principalmente em campeonatos menores, em que a vigilância das entidades esportivas e do poder público são menores.

No fim de semana, mais um caso. Uma árbitra covardemente agredida depois de uma decisão que tomou em campo. Ela acabou sendo atendida no hospital. Falta respeito ao árbitro, entre outras coisas.

A verdade é que a vida de árbitro no Brasil é difícil, e ele também é vítima de um sistema que esquece de proteger uma peça indispensável pro jogo.

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A arbitragem no Brasil precisa ser repensada. Ela tem que ser discutida e debatida por todos os operadores do esporte. Legisladores, associações esportivas e árbitros, claro.

São muitos os problemas. A começar pelo fato de que nem sequer eles são tratados como manda a Lei dos Árbitros, como profissionais (sim, há uma lei que regulamenta a profissão de árbitro, a Lei 12.867/2013. Se for dar uma olhada, não se espante, ela é realmente preguiçosa e não protege em nada a categoria, pelo contrário).

Para piorar, a Lei Pelé estabelece que os árbitros não têm vínculo de emprego com a entidade pagadora do seu "salário".

Em países como Inglaterra, Espanha, a relação é outra. O árbitro tem salário e uma remuneração a mais por jogo trabalhado. É possível. E seria mais justo.

A profissionalização não elimina erros, mas os diminui. Diminui porque traz com ela uma preparação mais adequada, um compromisso maior. E também deixa mais legítima qualquer reclamação por erro.

O relato de Renata Ruel, comentarista dos canais ESPN e colunista do Lei em Campo, mostra

 


Árbitra é agredida em campo e perde a mémoria

 

As agressões aos árbitros são mais constantes do que se pode imaginar, principalmente em campeonatos amadores, onde não há segurança como em jogos profissionais e os regulamentos das competições raramente punem os agressores de forma severa.

No último final de semana, Leidiane Nunes de Albuquerque, conhecida como Ane, foi bandeirar um jogo do campeonato amador de Salvado/BA e foi agredida.  Segundo o relato da árbitra da partida, Yasmim Sousa (pertencente ao quadro da Federação Baiana de Futebol), após a marcação de uma falta, um jogador da mesma equipe que sofreu a infração queria obriga-la a aplicar cartão amarelo ao infrator, a árbitra explicou que a falta não era para amarelo, mesmo assim a reclamação seguiu e então quem tomou o cartão amarelo foi este jogador. A partir daí a confusão começou, o jogador amarelado chamou Yasmin de palhaça, disse que ela queria se aparecer e desta forma foi expulso, então mais dois jogadores se aproximaram e a árbitra sofreu duas agressões, foi quando a árbitra assistente Ane entrou em campo para tentar ajudar. Ane levou um soco no rosto de um dos jogadores, o nome do agressor não foi revelado, não teve tempo de sequer tentar se defender, ela caiu no chão, conseguiu se levantar e dar uns cinco passos, mas em seguida caiu desmaiada em campo. Yasmim disse que teve  que fugir do local para não ser mais agredida e, então, foi encontrar Ane na emergência de um hospital, na UPA, a tirou de lá, levou para o Hospital Geral do Estado (HGE), onde passou pelo neurologista, fez exames na cabeça que não constataram nada.

Yasmim ainda relata que, ao chegar em casa por volta das 20h00 Ane ficou agressiva, não reconhecia ninguém, nem mesmo o seu filho. A levaram novamente ao HGE onde novos exames foram realizados, mas novamente nada constataram, porém a árbitra assistente perdeu totalmente a memória, pelo menos até o momento, pergunta o tempo todo o que aconteceu, quem é quem. Desde então nada mais foi feito, ou seja, Ane foi agredida com um soco, perdeu a memória, os exames nada constataram, os responsáveis pela organização do torneio e o sindicato dos árbitros local não assessoraram em momento algum.

Um profissional sai de casa para exercer o seu trabalho, é agredido, perde a memória e nenhuma providência foi tomada até agora. Não é questão de gênero, de ser campeonato profissional ou amador, mas sim de respeito ao ser humano que está ali trabalhando, a agressão constante e a falta de punição no futebol faz com que o esporte se torne uma "zona de guerra", o árbitro vai para o jogo trabalhar em um local de certa forma com risco de periculosidade, não sabendo o que pode lhe passar ao tomar decisões em campo.

Que as providências sejam tomadas prontamente para a melhora da saúde de Ane e que os responsáveis pelas agressões sejam severamente punidos, a segurança é um dos princípios do futebol e que ela prevaleça inclusive para os árbitros.

Respeito aos árbitros, respeito ao jogo, Fair Play, respeito ao ser humano, só assim para o espetáculo em campo ser completo.

Sobre o autor

Andrei Kampff é jornalista formado pela PUC-RS e advogado pela UFRGS-RS. Pós-graduando em Direito Esportivo e conselheiro do Instituto Iberoamericano de Direito Desportivo e criador do portal Lei em Campo. Trabalha com esporte há 25 anos, tendo participado dos principais eventos esportivos do mundo e viajado por 32 países atrás de histórias espetaculares. É autor do livro “#Prass38”.

Sobre o blog

Não existe esporte sem regras. Entendê-las é fundamental para quem vive da prática esportiva, como também para quem comenta ou se encanta com ela. De uma maneira leve, sem perder o conteúdo indispensável, Andrei Kampff irá trazer neste espaço a palavra de especialistas sobre temas relevantes em que direito e esporte tabelam juntos.