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Lei em Campo

Mata-mata no futebol. De novo essa discussão? Pelo visto, sempre

Andrei Kampff

07/04/2019 11h40

Uma discussão que está longe do fim.

Você prefere campeonatos por pontos corridos ou mata-mata?

Uma coisa não se discute, partidas decisivas, aquelas em que só uma equipe segue adiante, são muito mais emocionantes. Pontos corridos seria mais justo, já que premia a equipe mais bem estruturada e mais competente ao longo de toda a competição, segundo os defensores dessa corrente.

Estrutura, planejamento, desempenho; tudo isso, tudo bem.

Agora, não esqueça: justiça está em vencer dentro das regras do jogo.

A discussão é longa, e aqui não se pretende ser definitivo.

O bom no Brasil é que temos no futebol campeonatos para todos os gostos: Brasileiro por pontos corridos e Copa do Brasil no mata-mata.

Na futebol e na vida, a gente escuta, se informa, reflete e forma a própria convicção. Baseada em dados reais, por favor.

O Gustavo Lopes, advogado especializado em direito esportivo e colunista do Lei em Campo, por exemplo, tem uma certeza: no Brasil o mata-mata é muito melhor.

Vale ler os argumentos dele.

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Volta, mata-mata!!!!

Os estaduais caminham para o final, e o Brasileirão se aproxima.

Desde 2003 o Campeonato Brasileiro de futebol é disputado no sistema de pontos corridos, ou seja, é declarado campeão o clube que, após disputar duas partidas com cada equipe (uma em casa e outra fora), somar mais pontos. Esse modelo é usado com muito sucesso na Europa.

Até 2003 o regulamento do Brasileirão previa uma fase de mata-mata (ou playoffs) na qual os times decidiam a classificação e título em confrontos diretos. Normalmente, em dois jogos: um no campo de cada clube. Essa forma de disputa é adotada com extremo sucesso nos Estados Unidos.

Os defensores dos pontos corridos argumentam que é a forma de disputa mais justa, pois coroará o clube mais organizado, com melhor planejamento e que mantenha a regularidade. Os amantes do mata-mata entendem que se trata da forma mais emocionante de disputa e que é vencida pela equipe mais apta a enfrentar a pressão e situações adversas.

De fato, na Europa, onde se joga o melhor futebol do mundo, o modelo de pontos corridos é usado há décadas, e com bastante sucesso. Entretanto, esse êxito se deve a algumas peculiaridades do continente europeu.

Primeiramente, trata-se de países com área pequena. Das nações com as principais ligas, a França é a que tem menor território, com 547 mil km², inferior ao de Minas Gerais, que tem 587 mil km². Torna-se fácil para o torcedor acompanhar sua equipe nos mais diversos cantos do país, razão pela qual os campos estão sempre cheios.

Além disso, é fácil e barato circular na Europa. As estradas são boas, há trens e passagens aéreas baratíssimas nas empresas low cost. É possível, por exemplo, ir de Paris a Nice por 30 euros (pouco mais de R$ 100).

Isso sem falar na segurança e na qualidade dos estádios.

Mesmo diante de tudo isso, a maior competição da Europa é a Liga dos Campeões, cuja fórmula de disputa é por pontos corridos.

O Brasil é um país de dimensões continentais. Normalmente, 80% dos clubes do Brasileirão situam-se no eixo Sul-Sudeste, o que torna caro, custoso e cansativo para uma equipe do Norte ou do Nordeste fazer o "pingue-pongue". Talvez esse seja um dos motivos pelos quais grandes equipes com torcidas fantásticas como Bahia, Vitória, Náutico, Sport, Santa Cruz, Remo e Paysandu não consigam se firmar no cenário nacional.

Além disso, a alma latina do brasileiro clama pela emoção, pela disputa acirrada e pelos heróis. Quem não se lembra de Alex Alves da Portuguesa, em 1997, de Alex Mineiro do Atlético-PR, em 2001, de Robinho em 2002 ou, mais recentemente, do goleiro Victor (na Libertadores) em 2013?

Infelizmente, o campeonato por pontos corridos traz a cada rodada dois, três jogos com algum interesse e sete jogos sem atrativos. Normalmente, uma equipe dispara na frente, e a competição se torna uma briga por vaga na Libertadores, ou seja, pelo sexto (!) lugar.

Antes de 2003, os clubes brigavam ponto a ponto para ficar entre os oito primeiros colocados e depois começavam uma "nova competição" nos mata-matas. O campeão era a melhor equipe do país, ou seja, aquela que vencia segundo as regras de competição e que se preparava física e emocionalmente para a fase dos playoffs.

Os Estados Unidos, que têm dimensões continentais como o Brasil, têm as ligas esportivas mais valiosas do mundo, e todas elas são disputadas no sistema de mata-mata.

O modelo brasileiro cultural e geográfico é muito mais próximo do americano do que do europeu.

A média de público do Brasileirão de pontos corridos e de mata-mata tem sido muito próxima, mas indiscutivelmente a emoção caiu, e o produto Campeonato Brasileiro se tornou menos atrativo.

Tudo isso se torna mais claro quando nos deparamos com jogos sensacionais na reta final da Copa do Brasil.

O grande ponto negativo do mata-mata, que seria o fim de temporada prematuro para as equipes não classificadas, pode ser resolvido, por exemplo, com um playoff paralelo decidindo vagas nas competições sul-americanas, como se deu, por exemplo, no Brasileirão de 1999.

O debate é bastante complexo, e há medidas que podem ser interessantes, como a criação de "conferências", como ocorre nos EUA, mas, independentemente da conclusão individual, clamo pela volta dos grandes jogos, da expectativa de uma grande final e do surgimento dos mitos nos jogos decisivos.

Por Gustavo Lopes

Sobre o autor

Andrei Kampff é jornalista formado pela PUC-RS e advogado pela UFRGS-RS. Pós-graduando em Direito Esportivo e conselheiro do Instituto Iberoamericano de Direito Desportivo e criador do portal Lei em Campo. Trabalha com esporte há 25 anos, tendo participado dos principais eventos esportivos do mundo e viajado por 32 países atrás de histórias espetaculares. É autor do livro “#Prass38”.

Sobre o blog

Não existe esporte sem regras. Entendê-las é fundamental para quem vive da prática esportiva, como também para quem comenta ou se encanta com ela. De uma maneira leve, sem perder o conteúdo indispensável, Andrei Kampff irá trazer neste espaço a palavra de especialistas sobre temas relevantes em que direito e esporte tabelam juntos.