Problema da violência no futebol não é falta de leis, mas a impunidade
Não se pode tratar como torcedor quem decide agir como criminoso.
Nem na vida, nem no futebol.
O absurdo se repete. A cada rodada. O imaginário coletivo formou a mesma leitura: o futebol é um universo paralelo.
Não. Não é, nem pode ser.
E a questão não está nas leis. Elas existem. Atirar pedra contra um ônibus de um time de futebol é o mesmo que atirar contra um ônibus de linha convencional. A pessoa vai responder pelo crime.
Ameaçar, machucar, matar alguém, é crime. E se for briga entre "torcedores uniformizados" ou não, isso não pode, nem deve, mudar nada.
Além das leis na esfera cível e criminal, leis do esporte, como o Estatuto do Torcedor, também são rigorosas com relação a esse tipo de criminosos.
Mas o que acontece, então? Duas coisas: impunidade e acefalia coletiva.
Em grupo, pessoas fazem o que não fariam sozinhas. A multidão cega e torna todos em um, menos humano e mais violento. Para complicar, a sensação de impunidade alimenta esse tipo de comportamento.
Não se pune, se repete.
É buscando essa reflexão, em cima desse tipo de comportamento absurdo, que Gustavo de Souza, advogado especializado em direito esportivo e colunista do Lei em Campo, escreve. E ele traz um bom experimento feito nos EUA que ajuda a entender o que acontece no Brasil.
Os constantes incidentes indicam uma crescente violência nos estádios de futebol, já que seguimos vendo, a cada semana, em algum lugar do mundo, especialmente na América do Sul, cenas dantescas de alguma tragédia que poderia ter sido evitada.
Esses incidentes levam à reflexão de que as causas da violência nos estádios de futebol não têm sido atacadas em sua raiz. É fato que cada vez há mais prevenção e se evitam atos de vandalismos dos torcedores mediante medidas preventivas, dispositivos de segurança e leis. Entretanto, há muito que se fazer.
Ao redor do globo, especialmente na Europa e nos Estados Unidos, há experiências de êxito no combate à violência.
A relação entre violência e esporte é bastante complexa, com maior visibilidade no futebol devido à sua dimensão e importância como um dos principias fenômenos socioculturais do século XX. Em razão dessa complexidade, não há um consenso quanto às causas e soluções para a violência nos estádios de futebol.
Ao analisar casos de sucesso no combate à violência, destaca-se a aplicação da Teoria das Janelas Quebradas, tendo-se como referência verdadeira revolução na cidade de Nova York, que em três anos reduziu à metade o número de delitos.
Dois criminologistas da Universidade de Harvard, James Wilson e George Kelling, publicaram a Teoria das "Janelas Quebradas" na revista The Atlantic, em março de 1982.
A teoria baseia-se em experimento realizado por Philip Zimbardo, psicólogo da Universidade de Stanford, com um automóvel deixado em um bairro de classe alta de Palo Alto (Califórnia). Durante a primeira semana de teste, o carro não foi danificado.
Porém, após o pesquisador quebrar uma das janelas, o carro foi completamente destroçado e roubado por grupos vândalos, em poucas horas.
De acordo com os autores, caso se quebre uma janela de um edifício e não haja imediato conserto, logo todas as outras serão quebradas. Algo semelhante ocorre com a delinquência.
Nesse contexto, naturalmente com adaptações, a Teoria das Janelas Quebradas pode ser bastante útil e efetiva na redução dos índices de criminalidade e violência nos estádios de futebol.
Por Gustavo Souza
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