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Lei em Campo

Malandragem também é punida no futebol. É a regra do jogo

Andrei Kampff

20/05/2019 11h00

Vou sempre reforçar: a lei do jogo permite interpretação.

E outra coisa que também precisa ficar clara: além de entender o que diz a lei do jogo, árbitro precisa também conhecer o jogo.

Ele precisa saber como se joga, como os atletas se movimentam, qual a intenção do jogador.

Entender a intenção do jogador é fundamental para punir a malandragem. O árbitro como protagonista do jogo. Ele interpreta a jogada e pune aquele que tenta burlar as regras do jogo.

A especialista Renata Ruel, comentarista dos canais ESPN e colunista do Lei em Campo, traz exemplo e explica como o árbitro deve agir em lances assim.


Burlando o recuo de bola para o goleiro

A regra diz que o goleiro não pode tocar a bola com as mãos depois de recebê-la passada deliberadamente com os pés por um companheiro.

Isto é, se receber a bola de um companheiro jogada de cabeça, peito, ombro, joelho ou quaisquer partes do corpo que não sejam os pés, deliberadamente pode pegar com as mãos, agarrar essa bola, certo?

Que tal a análise do lance a seguir:

No vídeo o defensor tem totais condições de jogar com os pés, principalmente porque a bola está no chão, e não pelo alto. Porém, ele quer devolver a bola ao seu goleiro; sabendo que não pode com os pés, deita no chão e dá de cabeça, porém, o goleiro não agarra com as mãos essa bola.

Quando há um recuo de bola com os pés e o goleiro segura com as mãos, a infração é cometida pelo goleiro, que não poderia agarrá-la. O jogador não comente nenhuma infração.

Dessa forma, a jogada do vídeo pode ser considerada normal, já que o defensor toca com a cabeça, e o goleiro não pega com as mãos?

Não, essa jogada do vídeo não pode ser considerada normal, pois o defensor tenta burlar a regra do jogo para que seu goleiro a segure com as mãos. Com essa atitude de tentar burlar o "espírito" da regra, o jogador comete uma infração independentemente de seu goleiro agarrar ou não a bola com as mãos.

O texto da regra traz que será marcado um tiro livre indireto se um jogador "utilizar um truque deliberadamente para passar a bola para seu goleiro (inclusive quando executa um tiro livre) com a cabeça, o peito, o joelho, etc., a fim de burlar a regra, independentemente de o goleiro tocar ou não a bola com as mãos".

Pela regra, esse jogador receberá cartão amarelo por conduta antidesportiva.

No recuo de bola deliberado com os pés, o goleiro comete a infração se a segurar, mas quando um jogador tenta burlar a regra, como no vídeo, ou levantando a bola com os pés e tocando de cabeça, joelho, ombro para seu goleiro, mesmo que este não pegue com as mãos, a infração é cometida pelo jogador. O tiro livre indireto será marcado, e o cartão amarelo, aplicado.

 

Sobre o autor

Andrei Kampff é jornalista formado pela PUC-RS e advogado pela UFRGS-RS. Pós-graduando em Direito Esportivo e conselheiro do Instituto Iberoamericano de Direito Desportivo e criador do portal Lei em Campo. Trabalha com esporte há 25 anos, tendo participado dos principais eventos esportivos do mundo e viajado por 32 países atrás de histórias espetaculares. É autor do livro “#Prass38”.

Sobre o blog

Não existe esporte sem regras. Entendê-las é fundamental para quem vive da prática esportiva, como também para quem comenta ou se encanta com ela. De uma maneira leve, sem perder o conteúdo indispensável, Andrei Kampff irá trazer neste espaço a palavra de especialistas sobre temas relevantes em que direito e esporte tabelam juntos.