Prisão de Platini é recado a todos os dirigentes do esporte: façam o certo
Fazer o certo é sempre uma escolha. Teria que ser um dever moral de todo dirigente do esporte, mas a história recente tem mostrado que passou a ser também uma obrigação legal (ainda bem).
Ex-craque dos gramados, o francês Michel Platini foi detido na manhã desta terça em Paris pelas autoridades e levado para o gabinete anticorrupção da Polícia Judiciária francesa. A prisão vem na esteira das denúncias de corrupção na atribuição da organização da Copa do Mundo de 2022 ao Qatar.
No dia 27 de maio de 2015, o FBI, com a chancela do Departamento de Justiça dos Estados Unidos, comandou uma operação-surpresa num hotel luxuoso de Zurique, Suíça. Lá estavam os principais dirigentes da FIFA. Catorze deles foram presos, entres eles José Maria Marin, ex-presidente da Confederação Brasileira de Futebol.
Os dirigentes eram acusados de corrupção, por meio de fraude e lavagem de dinheiro em acordos de marketing e direitos televisivos de transmissão, passando também pela decisão das sedes da Copa do Mundo.
O suborno ultrapassou os US$ 100 milhões, e a primeira medida tomada pelo FBI foi extraditar os detidos para os Estados Unidos.
Cinco meses depois da prisão na Suíça, o Comitê de Ética da FIFA (que tem independência estatutária da entidade) afastou, entre outros, o então presidente Joseph Blatter. Dois meses depois, Blatter e Michel Platini, preso nesta terça, foram considerados culpados por gestão desleal e conflitos de interesse e afastados do esporte por oito anos.
Gianni Infantino assumiu a FIFA prometendo transparência e um novo modelo de gestão. Mas a prática ainda não caminha ao lado do discurso. Em novembro de 2018, um juiz do Comitê de Ética da FIFA foi preso na Malásia acusado de usar o cargo para faturar com benefícios pessoais. O caso aconteceu poucos meses depois de o Conselho da FIFA ratificar, em julho de 2018, o novo Código de Ética. Nele a palavra "corrupção" simplesmente sumiu. Logo ela, que havia sido decisiva no combate ao maior escândalo da história do esporte.
Mesmo assim, discursos por transparência e ética têm sido mais frequentes na cúpula do futebol mundial e por aqui. Já falamos sobre o que disse o novo presidente da CBF, Rogério Caboclo. Mas do que se diz para o que se faz, sempre existem muitas histórias.
Investir em planos de integridade, com conselhos independentes e órgãos fiscalizadores autônomos, seria mais do que discurso, seria uma verdadeira atitude comprometida com ética e transparência.
Existe um projeto de lei que tramita do Senado, o PL 68, que tem relatoria do professor de direito e colunista do Lei em Campo Wladimyr Camargos, que seria revolucionário para a gestão esportiva no Brasil. Entre outras coisas, ele tipifica o crime de corrupção privada no Brasil. Roubou de clube ou entidade esportiva, vai preso.
E por que você não faz a sua parte? Pressione o Congresso, faça com que esse PL seja analisado e aprovado. Ele traria uma revolução na gestão esportiva.
Ou seja, chega de desculpas!
Caminhos existem, na esfera esportiva e estatal: planos de integridade e PL 68. Com eles, ser transparente e ético deixa de ser apenas uma necessidade moral de nossos dirigentes – passa a ser também uma obrigação legal.
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