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Lei em Campo

STJD nega pedido do Cruzeiro para ter torcida única contra o Palmeiras

Andrei Kampff

06/12/2019 16h23

Washington Alves/Light Press/Cruzeiro

O Superior Tribunal de Justiça Desportiva resolveu não conceder a liminar pedida pelo Cruzeiro para que o jogo do próximo domingo contra o Palmeiras, partida que pode rebaixar o clube mineiro para a Série B do Campeonato Brasileiro tenha apenas a torcida mandante no Mineirão.

Em sua decisão, o presidente do STJD, Paulo César Salomão Filho, disse que "se o clube requerente está certo de que não tem condições de realizar a partida com segurança, até por força de outros eventos que serão realizados no entorno do estádio – e que assim como o jogo, já estavam programados desde o início do ano –  deverá, por ato próprio, e não deste STJD, cerrar os portões para todos os torcedores, expondo-se aos riscos e consequências dessa decisão".

O Ministério Público de Minas Gerais recomendou para a CBF e para a Federação Mineira de Futebol que o jogo fosse disputado só com a torcida do Cruzeiro presente por conta do histórico recente de confusões envolvendo a Pavilhão Independente e a Máfia Azul, as principais organizadas do clube, em jogos do Cruzeiro. Além disso, pesa também o fato de haver a possibilidade de atleticanos irem infiltrados no Mineirão, já que a Mancha Verde, principal organizada do Palmeiras, e Galoucura, organizada mais famosa do Atlético-MG, são coligadas.

"Nós vamos buscar as medidas que nos cabem, podemos ir à justiça comum pedindo uma liminar. Se o STJD quer bancar uma situação de torcedores… O próprio STJD poderia ter tomado medidas mais enérgicas, ter feito jogos com estádio vazio, punição mais severa aos clubes", pontua o promotor do Ministério Público de Minas Gerais, Paulo de Tarso Morais Filho, que fez o pedido para ter torcida única no jogo. "Depois da Copa do Mundo, o evento que terá o maior número de pessoas envolvidas", alertou Paulo de Tarso.

O posicionamento das torcidas cruzeirenses precisou até ser mudado, assim como a entrada delas no Mineirão.

"Como órgão de segurança, somos obrigados a agir preventivamente, não podemos pagar para ver. A integridade física não pode ficar em detrimento do futebol, que passa a ser terciário nessas situações. [Ter outra torcida é] trazer um ingrediente a mais para o conflito, que são os atleticanos que devem ir ao Mineirão infiltrados. Não queremos tolher os eventos esportivos, que são parte da cultura do mineiro. Mas estamos vivendo uma questão constante de tensão. A Polícia Militar tem tratado todos os jogos do Cruzeiro como clássico. O futebol leva a um fator emotivo que interfere na segurança, nossa preocupação não é favorecer "a" ou "b". É preservar a integridade física. Em um conflito de massa, como controla isso? Um aglomerado de pessoas, tem que tomar uma atitude de força, quantas pessoas que não têm nada a ver com isso podem ser atingidas?", justifica o promotor.

A Polícia Militar de Minas Gerais, mesmo sem saber qual seria a decisão, já havia entrado em contato com a torcida do Palmeiras para combinar os procedimentos adotados e como será feita a escolta dos quatro ônibus que estão previstos para sair de São Paulo para Belo Horizonte.

"Dos nove pelotões do Batalhão de Choque, oito estarão presente no efetivo do jogo no domingo", afirma a capitão Layla Brunnela, chefe da sala de imprensa da Polícia Militar de Minas Gerais.

Normalmente a PM cuida do que acontece fora do Mineirão, uma vez que a segurança dentro do estádio é particular. A PM até tem um local para ficar no lado de dentro da arena, mas só entra em ação se for solicitada. Mas para o jogo do próximo domingo o promotor Paulo de Tarso vai pedir para que a corporação tenha atuação preventiva e efetiva também do lado de dentro do Mineirão.

Fato é que a continuar com essa escalada de violência entre as torcidas em Minas Gerais, cresce a possibilidade de os clássicos serem disputados com torcida única.

"Não quer dizer necessariamente isso. Não posso generalizar, não quero de forma alguma inibir o futebol, queremos propiciar segurança a todos. Porém, em determinados momentos, se fosse hoje o clássico, teríamos que adotar esse expediente", alertou o promotor Paulo de Tarso Morais Filho.

A medida de disputar jogos importantes com torcida única foi criticada pela CBF e também foi motivo de preocupação do presidente do STJD.

"Não há dúvidas de que a realização de partida de futebol com uma única torcida é muito mais seguro e dá menos trabalho para os órgãos de segurança, contudo, acaso seja deferida a medida vindicada, há a possibilidade de pedidos de tais natureza se tornarem regra colapsando todo o sistema de disputa e o equilíbrio da competição", pontuou Paulo Salomão Filho.

Por Thiago Braga

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Sobre o autor

Andrei Kampff é jornalista formado pela PUC-RS e advogado pela UFRGS-RS. Pós-graduando em Direito Esportivo e conselheiro do Instituto Iberoamericano de Direito Desportivo e criador do portal Lei em Campo. Trabalha com esporte há 25 anos, tendo participado dos principais eventos esportivos do mundo e viajado por 32 países atrás de histórias espetaculares. É autor do livro “#Prass38”.

Sobre o blog

Não existe esporte sem regras. Entendê-las é fundamental para quem vive da prática esportiva, como também para quem comenta ou se encanta com ela. De uma maneira leve, sem perder o conteúdo indispensável, Andrei Kampff irá trazer neste espaço a palavra de especialistas sobre temas relevantes em que direito e esporte tabelam juntos.