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Lei em Campo

Torcida única contraria essência do esporte. Futebol brasileiro em perigo

Andrei Kampff

06/12/2019 09h30

Entenda. A graça do esporte está na incerteza do resultado. Se todos soubessem de véspera qual seria o placar de um jogo, o esporte perderia força, e a paixão encolheria.

Por isso vários dos princípios do direito esportivo visam garantir essa imprevisibilidade, como a integridade esportiva, o jogo limpo, e a paridade de armas, que é dar condições iguais aos competidores . Tudo para garantir o equilíbrio competitivo.

Eo futebol brasileiro está jogando contra a essência do esporte.  Não se dá as mesmas condições aos competidores, lá se vai o equilíbrio.

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Estou falando de torcida única. Agora é o Cruzeiro que quer proibir a torcida do Palmeiras de ir ao Mineirão na última rodada do Brasileiro. O time mineiro e o Ceará têm briga direta contra o rebaixamento.  Acontece que o Ceará irá jogar fora de Fortaleza. O ministério Público mineiro respalda o pedido.

Perde-se o equilíbrio nessa disputa. Para ser justo, todos os jogos precisariam, então, ser com a presença apenas da torcida local. Vamos parar onde?

Já escrevi que torcida única é um atestado público de incompetência do Estado. Ele assume que não tem condições de garantir a segurança dos torcedores, um dever constitucional do Estado. Mas o problema vai além. Os clubes e as entidades que organizam as competições, que têm por força legal (Lei Pelé) responsabilidade pela segurança do torcedor/consumidor, estão usando o MP como escudo para se eximir dessa responsabilidade. E, para piorar, por questões financeiras e esportivas.

Clubes grandes lotam seus estádios , e faturam mais vencendo ingressos só para sua torcida. E, em jogo decisivo, é sempre bom ter um estádio inteiro só apoiando o seu time, é um "doping emocional" que traz desempenho esportivo.

O futebol deve combater essa tendência. O STJD, tenho certeza, está preocupado com isso. É preciso discutir urgentemente essa tendência.

Preservar os princípios do direito desportivo é fundamental para o esporte. E, sempre necessário para tudo, manter a ética esportiva.  Sem esse equilíbrio competitivo as competições perdem não só o interesse, mas a razão de ser. 

O futebol das torcidas nos estádios mantém a disputa equilibrada, e mais: ele faz parte da cultura do futebol brasileiro.

Se você não se importa com cultura, pense apenas que uma hora seu time pode ser prejudicado por conta desse absurdo.

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Sobre o autor

Andrei Kampff é jornalista formado pela PUC-RS e advogado pela UFRGS-RS. Pós-graduando em Direito Esportivo e conselheiro do Instituto Iberoamericano de Direito Desportivo e criador do portal Lei em Campo. Trabalha com esporte há 25 anos, tendo participado dos principais eventos esportivos do mundo e viajado por 32 países atrás de histórias espetaculares. É autor do livro “#Prass38”.

Sobre o blog

Não existe esporte sem regras. Entendê-las é fundamental para quem vive da prática esportiva, como também para quem comenta ou se encanta com ela. De uma maneira leve, sem perder o conteúdo indispensável, Andrei Kampff irá trazer neste espaço a palavra de especialistas sobre temas relevantes em que direito e esporte tabelam juntos.