Falta de ataque e mão do defensor ao mesmo tempo. E agora? Regra explica
Andrei Kampff
27/05/2019 05h24
É sempre importante repetir: no futebol o árbitro tem poderes para tomar decisões segundo sua própria convicção. Não adianta digitar caixa-alta nas redes sociais contra isso. Esse poder vem das regras do esporte. Regra 5.
Entenda, interpretação da arbitragem é permitida pela regra do jogo.
Mesmo assim, aquele conselho que vale para o futebol e para a vida: mais informação sempre traz menos gritaria.
E, acredite, você, eu… todos ainda temos muito o que aprender.
O fim de semana trouxe um exemplo.
No jogo Grêmio e Atlético-MG pelo Brasileirão, no mesmo momento acontece um toque de mão do zagueiro do Galo e uma falta do jogador do Grêmio.
Duas infrações simultâneas! E agora, o que fazer?
A regra explica.
A especialista Renata Ruel, comentarista dos canais ESPN e colunista do Lei em Campo, esclarece essa história.
Pela rodada 6 do Brasileirão série A, o Grêmio enfrentou o Atlético em Porto Alegre. No final do primeiro tempo, aos 40 minutos de jogo, em um lance na área do Galo após cobrança de escanteio, o árbitro assinala falta para a defesa, porém, o VAR analisa as imagens, percebe uma mão deliberada e aciona o árbitro para revisão.
Depois de verificar as imagens, o árbitro da partida volta atrás, retira a falta do atacante e assinala pênalti para a equipe do Grêmio.
O interessante no lance é que ambas as infrações ocorreram ao mesmo tempo, ou seja, simultaneamente, e a regra prevê isso, como consta em seu texto:
"punirá a infração mais grave, considerando a punição, o reinício do jogo, a gravidade do contato físico e o impacto tático, quando ocorrerem mais do que uma infração ao mesmo tempo".
Isso quer dizer que, se a falta na defesa ocorresse primeiro do que a mão, o árbitro não poderia ter voltado atrás e marcado o tiro penal. O VAR, pela regra do jogo, poderia chamar o árbitro para revisão se a mão na bola acontecesse antes da falta no zagueiro ou se as ações fossem simultâneas (é raro de acontecer, mas foi o caso na Arena do Grêmio).
Sendo assim, conforme a regra, um tiro penal é mais grave do que um reinício com falta para a defesa, e nesse caso deve ser assinalado.
Muitas vezes, no campo de jogo, os árbitros não conseguem ver ações simultâneas, considerando a que viram primeiro para executar a decisão. Mas nesse jogo o VAR pôde ajudar a equipe de arbitragem em campo a cumprir a regra de forma correta.
Sobre o autor
Andrei Kampff é jornalista formado pela PUC-RS e advogado pela UFRGS-RS. Pós-graduando em Direito Esportivo e conselheiro do Instituto Iberoamericano de Direito Desportivo e criador do portal Lei em Campo. Trabalha com esporte há 25 anos, tendo participado dos principais eventos esportivos do mundo e viajado por 32 países atrás de histórias espetaculares. É autor do livro “#Prass38”.
Sobre o blog
Não existe esporte sem regras. Entendê-las é fundamental para quem vive da prática esportiva, como também para quem comenta ou se encanta com ela. De uma maneira leve, sem perder o conteúdo indispensável, Andrei Kampff irá trazer neste espaço a palavra de especialistas sobre temas relevantes em que direito e esporte tabelam juntos.