Ida de Griezmann para o Barça pode ser anulada? Entenda
Andrei Kampff
24/07/2019 18h10
A transferência de Antoine Griezmann do Atlético de Madri para o Barcelona pode ser anulada? O presidente da liga espanhola disse que vai analisar a questão.
O Atlético alega que o Barcelona e o jogador usaram de uma estratégia inaceitável para burlar o que estava estabelecido em contrato como multa por rescisão. Lembrando que a Espanha e o Brasil têm uma multa penal presente nos contratos de atletas profissionais, o que não acontece na França, por exemplo.
VEJA TAMBÉM:
- Neymar precisa se entender com PSG. Lei joga a favor do clube francês
- STJD vai analisar imagens de agressão no Beira-Rio e Inter pode ser punido
- Clubes não assumem responsabilidade na base, e problema com drogas aumenta
E por quê? Porque Griezmann anunciou em maio que não ficaria mais no clube ao final da temporada, quando a multa estipulada era de 200 milhões de euros. Em julho, ela caiu para 12o milhões – foi quando o Barcelona e o atleta anunciaram o acerto.
A Atlético entende que o negócio foi fechado antes, e deveria receber mais do que o Barça pagou.
Está certo? O clube de Madri pode processar o catalão por assédio? Essa discussão pode parar na FIFA? Ou na justiça trabalhista da Espanha?
O Thiago Braga conversou com especialistas e traz essas respostas.
Nos siga nas redes sociais: @leiemcampo
Foto: Ale Cabral/AGIF
O presidente da liga espanhola de futebol, Javier Tebas, disse nesta quarta-feira que a entidade pode bloquear a transferência de um jogador de um clube para o outro. A declaração surgiu por conta do pedido do Atlético de Madrid para La Liga bloquear a ida de Antoine Griezmann para o Barcelona. Assim, Griezmann não poderia ser registrado como jogador do Barcelona.
"A Liga não teria competência, porque é uma questão espanhola. É a Justiça do Trabalho espanhola, lá chamada de Justiça Social, que deve avaliar o conflito", afirma Luiz Marcondes, presidente do Instituto Iberoamericano de Direito Esportivo.
Como o atacante francês anunciou em maio que não ficaria mais no clube, o Atlético entende que o Barcelona deveria pagar a multa rescisória integralmente, ou seja, 200 milhões de euros, e não os 120 milhões de euros pagos pelo clube catalão. Para especialistas ouvidos pelo Lei em Campo, o pedido dos "colchoneros" é difícil de ser atendido.
Griezmann havia renovado seu vínculo com o Atlético de Madrid na temporada passada, quando a multa passou de 100 milhões para 200 milhões de euros, mas com a previsão de que ela seria reduzida para 120 milhões a partir de 1º de julho deste ano.
"Havia um contrato que previa redução da cláusula penal a partir de determinada data. Até 1º de julho, o francês foi atleta do Atlético. Depois, arcou com o valor atualizado da cláusula e se transferiu. Em vista dos elementos tornados públicos, não vejo grandes chances de sucesso", analisa o advogado Jean Nicolau, especializado em direito esportivo.
Uma das saídas para o clube de Madri seria apelar para a Justiça comum para tentar receber a diferença de 80 milhões de euros que o Atlético entende que tem direito.
"Em tese, está dentro de uma razoabilidade. O Griezmann conhecia seu contrato, e passou a informação ao Barcelona. Que, entendendo ser melhor, esperou. É que, quando houve a primeira manifestação, o valor da cláusula era de 200 milhões de euros", esclarece Marcondes.
Em 14 de maio deste ano, Griezmann veio a público e disse que a temporada passada seria a última com a camisa do Atlético, e os "colchoneros" usam esse anúncio como prova de que já haveria, na ocasião, um acordo entre jogador e Barcelona para a transferência de Madri para a Catalunha.
"O Atlético teve a surpresa porque o Barcelona depositou a multa. Mas quando o Griezmann aventa a possibilidade de ir ao Barcelona, o contrato dele não se rompeu naquele momento. Nesse sentido, não vejo razão para o Atlético de Madrid", finalizou Marcondes.
Para Marcondes, o Atlético até poderia levar o caso para a Fifa, mas pouco adiantaria neste momento. "A Câmara de Resolução de Conflitos da Fifa poderia receber. Mas o artigo primeiro do Regulamento de Status e Transferência da Fifa diz que por serem dois clubes espanhóis, cabe à federação nacional decidir e já há jurisprudência nesse sentido", ressaltou Marcondes.
Sobre o autor
Andrei Kampff é jornalista formado pela PUC-RS e advogado pela UFRGS-RS. Pós-graduando em Direito Esportivo e conselheiro do Instituto Iberoamericano de Direito Desportivo e criador do portal Lei em Campo. Trabalha com esporte há 25 anos, tendo participado dos principais eventos esportivos do mundo e viajado por 32 países atrás de histórias espetaculares. É autor do livro “#Prass38”.
Sobre o blog
Não existe esporte sem regras. Entendê-las é fundamental para quem vive da prática esportiva, como também para quem comenta ou se encanta com ela. De uma maneira leve, sem perder o conteúdo indispensável, Andrei Kampff irá trazer neste espaço a palavra de especialistas sobre temas relevantes em que direito e esporte tabelam juntos.