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Rússia recorre do banimento da Copa e Olimpíadas, mas situação é complicada

Andrei Kampff

28/12/2019 20h35

Conforme prometido, a Agência Russa Antidoping (Rusada) enviou uma carta oficial a Agência Mundial Antidoping (WADA) para contestar a exclusão do país das competições esportivas mundiais por ter falsificado uma base de dados de controle antidoping.  A questão será agora analisada pelo Tribunal Arbitral do Esporte (TAS), que tem sede na Suíça .

No dia 9 de dezembro, a WADA seguiu a orientação do Comitê de Integridade do órgão e proibiu a Rússia de participar nos principais eventos esportivos internacionais durante quatro anos, o que inclui os Jogos Olímpicos de 2020 e 2022 (Inverno) e a Copa do Mundo de 2022. As sanções estabelecem que apenas atletas russos selecionados podem participar de competições, mas sob uma bandeira neutra e sem o hino nacional tocado.

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A punição é severa porque a Agência considerou que a Rússia manipulou os dados do laboratório antidoping de Moscou enviados no início do ano, em mais um crispe episódio do escândalo que começou com a revelação, em 2015, de um esquema de doping estatal praticado desde 2011, e que envolvia altos funcionários do governo, agentes secretos e frascos de urina adulterados.

Doping como política de Estado

O presidente russo Wladimyr Putin usa o esporte como catalizador de popularidade.  Tanto que contou com grandes competições para aumentar o prestígio de seu país, organizando eventos como os Jogos Olímpicos de inverno em Sochi (2014) e os campeonatos mundiais de atletismo (2013), natação (2015), hóquei no gelo (2016) e futebol (2018). Além de colocar Sochi no calendário de corridas da Fórmula 1. 

Um documentário exibido na televisão alemã em 2015 provocou a maior crise da história do esporte. Medalhas confiscadas. Ídolos desmoralizados. Uma potência desmascarada. A corajosa delação da atleta Yulia Stepanova e do marido, o treinador de atletismo Vitaly Stepanova, estremeceu o mundo do esporte e desencadeou uma avalanche de processos judiciais. Os fatos narrados por Yulia provocaram uma investigação que trouxe consequências para o esporte e também para o mundo jurídico esportivo.

O documentário mostrou um esquema estatal de doping. O Estado russo produzindo campeões de maneira ilícita. A partir dele, dezenas de pessoas passaram a falar. O ex-diretor do laboratório antidoping de Moscou, Grigory Rodchenkov, exilado nos Estados Unidos por motivos de segurança, revelou ao New York Times que os Jogos Olímpicos de Inverno de Sochi 2014 foram manchados por um escândalo de doping em grande escala. Rodchenkov acusou inclusive o serviço secreto russo de ter trocado amostras suspeitas e afirmou que ao menos 15 medalhistas russos nesses Jogos de Inverno eram dopados.

Trabalhei na cobertura do evento de Sochi, e muito já se falava de um esquema do governo para encobrir doping dos atletas a fim de transformar a Rússia na grande vencedora dos Jogos e alavancar a imagem pública de Vladimir Putin. Mas ninguém imaginava que, em fevereiro de 2015, um ano depois, o castelo de conquistas estaria completamente destruído.

Depois de todas as punições, os problemas continuaram. A Rússia não colaborou nessa nova fase de investigações.

Segundo o próprio diretor da Rusada, a manipulação do banco de dados em questão, que estava nas mãos da polícia, provavelmente procurou proteger grandes nomes do esporte russo. O governo russo nega. O ministério do Esporte emitiu nota dizendo que não participou de qualquer manipulação, e o Wladimyr Putin afirmou que as sanções são "injustas".

Logo depois da punição divulgada pela WADA no início de dezembro, o presidente russo denunciou que a decisão foi "politicamente motivada", considerando que "toda punição deve ser individual" e não coletiva.

Doping é punido com rigor no esporte 

O doping é um dos maiores inimigos de um dos princípios mais caros ao movimento Olímpico: o do jogo-limpo.

Pierre de Coubertin, o "pai" dos jogos olímpicos modernos, escreveu em suas Memórias olímpicas que o olimpismo é uma "escola de nobreza e de pureza moral, bem como de resistência e energia física – mas só se (…) a honestidade e a abnegação do esportista forem desenvolvidas de forma tão acentuada quanto a força dos músculos"

O Código Mundial Antidoping reforça a ideia do jogo-limpo ao determinar que visa "proteger o direito fundamental dos atletas de participar de atividades esportivas isentas de doping, promover a saúde e garantir assim aos atletas do mundo inteiro a eqüidade e a igualdade no esporte"

Muito por causa disso, ele é punido com rigor no esporte.

Situação é complicada para a Rússia 

A situação da Rússia é tão complicada que próprio diretor geral da Rusada, Yuri Ganus. enviou uma segunda carta a WADA na semana que passou, com a opinião dele sobre os fatos:

"Lamento informar que fracassei em meus esforços para mudar a opinião (dos órgãos com poder de decisão na Rusada) sobre esta notificação", disse na carta. O diretor já se manifestou algumas vezes acusando as autoridades esportivas russas de não estarem à altura do esporte nacional. Ganus foi além, e disse que, ao contestar a decisão da Wada, a Rússia assumiu "o sério risco" de ver as "sanções reforçadas e não suavizadas".

Os atletas russos estão assustados, e criticam o excesso de rigor da Wada. A exclusão da Rússia é vivenciada por todos eles como uma nova catástrofe, após o país estar fora de várias competições desde 2015.

De acordo com o processo, o caso agora será analisado pelo Tribunal Arbitral do Esporte (TAS)> pelo que se colocou aqui, pelo histórico das decisões, pela insistência do país em atrapalhar as investigações, a situação da Rússia é muito difícil. 

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Sobre o autor

Andrei Kampff é jornalista formado pela PUC-RS e advogado pela UFRGS-RS. Pós-graduando em Direito Esportivo e conselheiro do Instituto Iberoamericano de Direito Desportivo e criador do portal Lei em Campo. Trabalha com esporte há 25 anos, tendo participado dos principais eventos esportivos do mundo e viajado por 32 países atrás de histórias espetaculares. É autor do livro “#Prass38”.

Sobre o blog

Não existe esporte sem regras. Entendê-las é fundamental para quem vive da prática esportiva, como também para quem comenta ou se encanta com ela. De uma maneira leve, sem perder o conteúdo indispensável, Andrei Kampff irá trazer neste espaço a palavra de especialistas sobre temas relevantes em que direito e esporte tabelam juntos.


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