Elas substituíram os homens nas fábricas e nos campos. Só até guerra acabar
Às mulheres da bola não basta driblar as adversárias. É preciso superar também o preconceito.
E não é de hoje. É da história.
Na Inglaterra, durante a Primeira Guerra Mundial, elas ocuparam o lugar dos homens nas fábricas, e também no campos.
Jogaram, encantaram, lotaram estádios… mas só até a guerra acabar. Com a volta dos homens, perderam empregos e o direito de jogar futebol.
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A Danielle Maiolini, advogada especializada em direito esportivo e colunista do Lei em Campo, conta mais sobre essa história fantástica – e triste.
British Ladie's Football Club: "as mulheres não são essas criaturas ornamentais e inúteis que imaginam"
Em 1914, a primeira guerra mundial levou das ruas da Europa a paz e os homens. Por tempo suficiente pra que as mulheres ocupassem parte dos espaços vazios deixados por eles.
Em Londres, nas fábricas, eram em torno de 600 mil recém empregadas entre ferrovias e munições. Apesar das condições sofríveis que envolviam a jornada e a falta de saúde nas fábricas, isso teve os seus benefícios. As não menos de 12 horas por dia de trabalho levaram as mulheres a se reunirem nos grandes pátios com chaminés alimentadas por carvão e decoradas a vapor. Mulheres que em sua maioria não eram em nada diferentes dos operários que se ocupavam do futebol pra dar vida aos momentos desocupados. E assim faziam.
Na mesma década, as primeiras leis de proteção ao trabalho permitiram que alguns poucos – e duramente conquistados – períodos de tempo livre fossem preenchidos com minutos de lazer que muitas desfrutavam com a bola no pé. Porque isso incomodava é que não se sabe.
Incomodava tanto, que o que o jornal Glasgow Herald tinha pra dizer sobre a primeira partida internacional registrada no futebol feminino era que "As jovens, que deviam ter entre 18 e 24 anos, estavam muito bem vestidas" e "Algumas pareciam compreender o jogo".
Precisou o British Ladie's Football Club ser fundado como o primeiro clube de futebol feminino pra dizer ao mundo que "as mulheres não são essas criaturas ornamentais e inúteis que se imaginam". O salário (apesar de mais baixo) as levou a, além de jogar por lazer, consumir o espetáculo. E o estudo também.
Alimentavam e faziam crescer a mídia esportiva em jornais e revistas. O futebol além do campo. Dentro dele, chegaram ao auge quando viram 53.000 espectadores aglomerados nas grades do Goodison Park pra contemplar as Dick, Kerr Ladies ganharem de 4 a 0 das St. Helen's Ladies.
As vencedoras disputaram um total de 67 partidas na temporada seguinte. Eram duas por semana. Calendário cheio. Falamos dos idos de 1900 e algo. Até que as proibiram. A guerra chegava ao fim, e se os homens voltavam pras fábricas, alguém tinha que voltar pra casa.
A essa altura foram mais de 750.000 mulheres demitidas Inglaterra afora. Deviam voltar pro seu lugar. Valia pro trabalho, valia pro futebol. Em 1921, a federação inglesa proíbe oficialmente que seus clubes afiliados forneçam seus terrenos pra prática do futebol feminino.
Pela coragem e pela insistência, continuariam a jogar. Mesmo proibidas. Mas escondidas. Os jornais já não podiam falar delas. E assim, a memória coletiva das obreiras futebolistas se foi. Só começaria a ser reconstruída cinquenta anos depois.
Referências
CORREIA, Mickael. Una Historia Popular Del Fútbol.
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