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O futuro está na base. O futuro de um time distante daqui

Andrei Kampff

14/08/2019 10h45

"O futuro está na base". Quem acompanha futebol já ouviu essa frase.

Ela não deixa de ser verdade, muito embora os fatos mostrem que esse futuro não se refere ao futebol brasileiro. Quem vai faturar com o talento que se produz aqui está muito distante daqui. Nosso modelo de exportação nos tira o privilégio de acompanhar o que se criou na auge maturidade esportiva.

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Nesta época de "janela aberta", Danielle Maiolini, advogada especializada em direito esportivo e colunista do Lei em Campo, propõe justamente essa reflexão. E para isso conta com a ajuda de Eduardo Galeano, um dos maiores escritores uruguaios. E de uma obra indispensável para quem curte o futebol, "Futebol ao Sol e à Sombra".

Aproveite.

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Prata da casa 

 

Desde muito tempo, o sul do mundo é conhecido como o início do longo itinerário percorrido pelo jogador com 'boas pernas e boa sorte'. Prata da casa, é crescer que o jogador nascido e criado no clube daqui vai alçar novos voos pra longe.

Ainda na onda das transferências, me lembrei das linhas onde o Galeano brincava que, até algum tempo atrás, 'passe' era a viagem da bola de um ponto ao outro. Agora, é a viagem do jogador. De um clube pro outro. De um país pro outro. Causando altas e baixas na bolsa das pernas. Lá, onde, entre ofertas e procuras, como todo mercado que se preze, leva vantagem quem não precisa comprar, quando tem quem precisa vender. Lá, onde, asfixiados, os times brasileiros buscam a oportunidade da transação. Precisam ver o caixa girar. E vender menino recém-formado ainda é a melhor opção.

Problema nenhum. Não fosse o fato de que onde se drena tudo o que a terra produziu, o solo fica mais pobre. O futebol fica mais pobre. Como numa 'indústria de exportação', onde o mercado interno fica com o que sobra do negócio. E perde. O campeonato nacional perde.

Entre a má gestão e a matemática do resultado, os jogadores desaguam, um a um, na corrente que leva mais gente do que traz. E, junto com eles, o torcedor parece que também vai. Já não olha mais pra cá, senão pra lá. E consome o futebol do outro continente.

Os especialistas falam que assim a conta não fecha. O dinheiro da venda é bom, mas melhor que viesse de outro lugar. Da exploração do produto aqui. Da valorização do produto aqui. E assim, apontam os bons exemplos de lá.

Ontem, ouvi que se começássemos agora a reformular o modelo, levaríamos dez anos pra chegar. Pensei: não tem mandato que dure tanto tempo (felizmente). E quem é que vai querer fazer agora pro outro colher no próximo? O jeito, é fazer o que dá. Quando o torcedor reclama, os clubes se esforçam pra trazer aqueles que foram faz tempo, e agora querem voltar. É mais caro, o futebol já não é mais o mesmo, mas agrada. Por um tempo. Enquanto isso, a promessa vai embora. Por um preço menor do que poderia ser. Deixando, no time, um buraco que podia preencher.

 

Referências

GALEANO, Eduardo. Futebol ao sol e à sombra. Tradução de Eric Nepomuceno e Maria do Carmo Brito. Porto Alegre: L&PM, 2014.

 

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Sobre o autor

Andrei Kampff é jornalista formado pela PUC-RS e advogado pela UFRGS-RS. Pós-graduando em Direito Esportivo e conselheiro do Instituto Iberoamericano de Direito Desportivo e criador do portal Lei em Campo. Trabalha com esporte há 25 anos, tendo participado dos principais eventos esportivos do mundo e viajado por 32 países atrás de histórias espetaculares. É autor do livro “#Prass38”.

Sobre o blog

Não existe esporte sem regras. Entendê-las é fundamental para quem vive da prática esportiva, como também para quem comenta ou se encanta com ela. De uma maneira leve, sem perder o conteúdo indispensável, Andrei Kampff irá trazer neste espaço a palavra de especialistas sobre temas relevantes em que direito e esporte tabelam juntos.


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