CBF quer médico no VAR e substituição temporária para prevenir concussão
Andrei Kampff
25/01/2020 13h04
No final do ano passado a CBF apresentou para International Football Association Board, órgão que rege as regras do futebol mundial, duas opções para alteração na regra do jogo em casos de concussão: uma quarta substituição ou, ao menos, uma substituição temporária, de 10 minutos, para que os casos envolvendo choques na cabeça sejam mais bem avaliados. O IFAB vai se reunir no dia 29 de fevereiro, na Irlanda do Norte, para definir as regras para temporada 2020/2021.
"A gente tem uma expectativa que seja votado porque é um assunto que nós estamos falando desde 2017. Agora em dezembro tomou mais força no congresso da Conmebol. É um assunto que precisa progredir realmente nessa modificação", afirma Jorge Pagura, Comissão Médica e de Combate à Dopagem da CBF.
No final de 2019, o IFAB disse que avaliava a criação de um grupo de estudos para aprofundar como fazer mudanças nas regras do futebol envolvendo a concussão. O movimento pela mudança nas regras tem crescido exponencialmente.
"Foi muito bem aceito o nosso protocolo no congresso da Conmebol. E com o advento do VAR, existe a possibilidade termos um médico na cabine do VAR. É um projeto que pode acontecer já nesta edição da Libertadores. O médico não vai retirar o jogador do campo, mas ele vai avisar os médicos das equipes que é para observarem um determinado jogador porque há a possibilidade desse atleta ter sofrido uma concussão cerebral", revela Pagura.
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Um estudo de 2016 baseado em registros de saúde de mais de 100.000 pessoas dos Estados Unidos descobriu que, após uma única concussão diagnosticada, as pessoas tinham mais probabilidade de ter problemas de saúde mental e menos probabilidade de se formar no ensino médio e na faculdade. Outra pesquisa mostrou que as pessoas na prisão ou sem-teto são mais propensas a ter uma experiência passada de concussão.
Em 2017, pesquisadores da Universidade de Londres examinaram o cérebro de cinco pessoas que foram jogadores profissionais de futebol e uma que foi amadora comprometida a jogar futebol ao longo de sua vida. Jogaram futebol por 26 anos, em média, e todos os seis desenvolveram demência depois dos 60 anos. Ao realizar exames post mortem, os cientistas encontraram sinais de lesão cerebral – denominada encefalopatia traumática crônica (CTE) em quatro casos.
A FifPro, sindicato dos atletas profissionais, já pede desde 2018 a substituição temporária. Além disso, o sindicato pede um médico independente nas partidas para ajudar a decidir se um jogador com suspeita de concussão deveria continuar em campo, em vez de deixar a decisão para os médicos dos times. A entidade mostra preocupação porque, embora tais procedimentos sejam empregados com sucesso em diversos esportes, ainda não foram adotados pelo futebol profissional. Outra entidade que mostra preocupação é a Federação Americana de Futebol, que apresentou um pedido para que a NWSL (a liga feminina de futebol) conduza um programa-piloto pelo qual sejam permitidas as substituições temporárias por conta de concussão. O argumento da Fifa para não deixar um time substituir um jogador que bateu a cabeça é a tática: um técnico poderia levar vantagem com a medida.
Hoje o que a Fifa tem é um protocolo que permite que o jogador seja avaliado por três minutos dentro de campo. Passado esse tempo, ele tem de deixar o gramado para ser atendido – mas sem nenhum exame complexo para identificar a gravidade do problema.
"Tem se falado muito em concussão, como nós começamos a falar. Então, por isso que nós mapeamos no Campeonato Brasileiro, e o trauma de cabeça é o segundo trauma em importância. Depois da lesão muscular, ele empata com o joelho em números de ocorrência", explica Pagura.
No segundo turno do Campeonato Brasileiro do ano passado, por determinação da CBF, os médicos dos clubes passaram a responder a um questionário cedido pela a CBF, para que eles pudessem relatar tudo que aconteceu com os atletas, independentemente de ter havido um choque mais grave.
A adesão dos médicos dos clubes superou a expectativa e atingiu 94,7% de um total de 190 jogos. Foram relatados 18 traumas na cabeça neste período, o que equivale a 5% de incidência. O principal mecanismo de lesão é o contato cabeça-cabeça, sendo responsável por 81% dos traumas de cabeça relatados.
O sintoma mais frequente apresentado pelos jogadores que sofreram algum tipo de concussão no último Campeonato Brasileiro foi a cefaléia intensa, aquela tradicional dor de cabeça, com (31%) de incidência. Visão dupla (23%), perda de consciência e ficar no solo sem se movimentar, ambos presentes em 15% dos casos, foram os outros sintomas.
Perguntas como "que torneio estamos disputando?", "contra que equipe estamos jogando?", "em qual cidade estamos jogando?", são algumas feitas para avaliar o nível de consciência dos atletas. Mas as evoluções, segundo Pagura, não devem ficar por aí.
Toda essa preocupação existe por conta dos que os médicos chamam de "síndrome do segundo impacto".
É consenso que não se deve voltar aos esportes no mesmo dia do ferimento, ainda que a pessoa não apresente sintomas físicos. Retomar os esportes muito cedo aumenta o risco de uma segunda concussão, o que pode ser fatal.
Por Thiago Braga
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Sobre o autor
Andrei Kampff é jornalista formado pela PUC-RS e advogado pela UFRGS-RS. Pós-graduando em Direito Esportivo e conselheiro do Instituto Iberoamericano de Direito Desportivo e criador do portal Lei em Campo. Trabalha com esporte há 25 anos, tendo participado dos principais eventos esportivos do mundo e viajado por 32 países atrás de histórias espetaculares. É autor do livro “#Prass38”.
Sobre o blog
Não existe esporte sem regras. Entendê-las é fundamental para quem vive da prática esportiva, como também para quem comenta ou se encanta com ela. De uma maneira leve, sem perder o conteúdo indispensável, Andrei Kampff irá trazer neste espaço a palavra de especialistas sobre temas relevantes em que direito e esporte tabelam juntos.