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Lei em Campo

Sites de apostas investem no futebol. Nem sempre respeitando regras

Andrei Kampff

18/07/2019 17h00

É difícil, mas é preciso aceitar uma verdade irrefutável: o futebol é mais do que um jogo… é um negócio. Bilionário!

Por mais que se coloquem regras tentando preservar limites que mantenham identidades, o "negócio" acaba encontrando caminhos para faturar ainda mais.

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O exemplo vem da Inglaterra. Lá o regulamento do campeonato nacional estabelece um limite de tamanho para o patrocínio da camisa. Um clube não respeitou e, até que a camisa seja proibida, a estratégia de marketing já funcionou. Qual a patrocinadora? Uma empresa de apostas, dessas que estão chegando com a mala cheia de dinheiro no Brasil.

E aqui, um alerta importante. Ainda há muito que se discutir sobre a chegada dessas empresas, mesmo com a lei que foi aprovada ano passado.

Por aqui, ainda não há nenhuma regulação sobre o patrocínio desse tipo de empresa, que lida com dinheiro, apostas, em clubes esportivos, e isso merece atenção. Todo o cuidado e debate é importante nessa relação com o esporte, que é sempre presente no universo das crianças e adolescentes.

Entenda como a Inglaterra trata desse assunto com Luiz GG Costa, advogado em Londres e colunista do Lei em Campo.

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Qual o tamanho do patrocínio?

Quais seriam os limites de um patrocínio no futebol? Em tempos de fair play financeiro, como podem ser controlados valores e exposição de marcas? Controles e regras existem. Mas, como sempre, regras existem para ser quebradas.

É o que parece ter sido o propósito do Huddersfield Town FC, equipe da segunda divisão do futebol inglês, ao entrar em campo, na última terça-feira, com sua nova camisa para a temporada 2019/2020. Sua tradicional camisa listrada de azul e branco trazia uma faixa diagonal com o nome (em caixa-alta) do patrocinador, uma casa de apostas, durante o amistoso contra Rochdale.

O tamanho do nome do patrocinador já é grande. Imagine então em caixa-alta e na diagonal (como a faixa branca do Vasco da Gama). E ainda, uma casa de apostas. Assim, a Football Association contatou a equipe para que prestasse atenção ao regulamento sobre propaganda, aplicável a todas as equipes de futebol na Inglaterra, em relação aos seus uniformes. O regulamento estabelece que o patrocínio em camisas deve ser limitado a apenas uma área, não excedendo 250 centímetros quadrados, e na frente da camisa.

Caso haja contravenção ao regulamento, a camisa pode ser banida. Porém, até que isso aconteça, a estratégia de marketing do patrocinador já foi um sucesso. Isso em um momento em que empresas de apostas sofrem escrutínio no mundo do esporte. Devem ou não ter suas marcas associadas à prática de esporte? Segundo dados da BBC, na última temporada quase 60% dos clubes nas primeiras duas divisões da Inglaterra traziam nomes de casas de apostas em suas camisas (nove na Premier League e dezessete na Championship). 

Apesar da proibição de reprodução do logotipo dessas empresas nas camisas vendidas para crianças, tais patrocínios não são proibidos (como é o caso de Alemanha, Portugal, França e Holanda).

Se a moda pegar, teremos então uma mudança radical no estilo e, potencialmente, nas cores dos uniformes. Mais um indício dos tempos em que vivemos, Futebol S.A.

Sobre o autor

Andrei Kampff é jornalista formado pela PUC-RS e advogado pela UFRGS-RS. Pós-graduando em Direito Esportivo e conselheiro do Instituto Iberoamericano de Direito Desportivo e criador do portal Lei em Campo. Trabalha com esporte há 25 anos, tendo participado dos principais eventos esportivos do mundo e viajado por 32 países atrás de histórias espetaculares. É autor do livro “#Prass38”.

Sobre o blog

Não existe esporte sem regras. Entendê-las é fundamental para quem vive da prática esportiva, como também para quem comenta ou se encanta com ela. De uma maneira leve, sem perder o conteúdo indispensável, Andrei Kampff irá trazer neste espaço a palavra de especialistas sobre temas relevantes em que direito e esporte tabelam juntos.