O Brasil toma uma atitude importante no combate à concussão, e que deve servir de exemplo para vários países do mundo, inclusive para a FIFA.
Uma nova determinação da Confederação Brasileira de Futebol vem aí: o protocolo de concussão será aperfeiçoado, e ele deixa de ser uma recomendação; ele passará a ter um relatório obrigatório já a partir do segundo turno do Brasileiro.
Esse novo protocolo foi capitaneado pelo Dr. Jorge Pagura, presidente do Comitê Médico e de Combate à Dopagem da CBF, que pesquisa sobre concussão há mais de 10 anos, tendo lançado um livro muito importante sobre o assunto, com Renato Anghinah, "Concussão Cerebral".
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Como é hoje?
Hoje o futebol brasileiro segue o protocolo da FIFA. E, segundo especialistas, não ataca de maneira efetiva o problema.
Depois dos repetidos casos de choque na Copa de 2014, a FIFA passou uma orientação sobre o que fazer em lances como esse. Aqui é importante destacar: é uma diretriz, não é um protocolo obrigatório como nos esportes americanos.
Ela diz que o médico da equipe é que vai determinar a continuidade do atleta, mas do lado de fora do campo. São três minutos de atendimento dentro do gramado, e o jogador precisa ser levado para fora de campo. O prejuízo técnico – jogar com um menos – também acelera o atendimento e não ajuda numa avaliação mais correta.
Ele tem um tempo muito curto para diagnosticar a perda de consciência, o andar desnorteado do atleta e fazer as perguntas-chave. Depois de analisar tudo isso, o médico precisa decidir se o atleta tem condição ou não de continuar.
Se o médico constatar algo anormal, no vestiário um novo exame deve ser feito, com duração de cerca de 10 minutos.
A conclusão é de que a determinação do futebol ainda deixa jogadores em risco, e precisa ser aprimorada.
CBF inova no combate a concussão no futebol
A CBF passou a organizar desde 2015, com a chegada do médico Jorge Pagura, cursos de educação continuada, uma espécie de treinamento e orientações do trabalho que deve ser feito no atendimento aos atletas. Nesses cursos os participantes recebem treinamento para casos de parada cardíaca, hipoglicemia e concussão, para dar alguns exemplos.
Na quinta edição, que aconteceu na Brasil Futebol Expo, em São Paulo, os médicos foram treinados e avisados de que o protocolo de concussão da CBF vai passar a ser aperfeiçoado.
Os médicos dos clubes, além de seguirem o atendimento estabelecido, serão agora obrigados a responder a um questionário da CBF relatando tudo que aconteceu com os atletas, independentemente de ter havido um choque mais grave.
Isso aumenta a responsabilidade dos clubes, e vai ajudar no trabalho de acompanhamento dos atletas.
A equipe da CBF irá monitorar esses relatórios e vai passar a analisar semanalmente todos os casos de concussão de atletas.
Esse novo procedimento foi testado na Copa América pela Conmebol, e a conclusão é de que ele será muito importante.
Concussão é um problema sério no esporte
Essa é uma vitória dos atletas do futebol brasileiro. Um passo importante no combate a algo perigoso em todos os esportes de contato: o choque de cabeça, que pode gerar uma concussão.
A concussão cerebral é a perda de consciência num intervalo curto de tempo, e acontece logo após um traumatismo craniano.
De difícil diagnóstico, ela caracteriza-se por microlesões, que não são visíveis, mas que apresentam sintomas característicos. E como o diagnóstico é complicado, muitos atletas que sofrem concussão voltam ao jogo, o que é um problema sério.
São vários os exemplos no futebol. O lateral uruguaio Álvaro Pereira na Copa de 2014, o goleiro Karius, do Liverpool, na final da Liga dos Campeões de 2018… e a lista é longa de jogadores que não poderiam voltar a campo se fosse colocado em prática um protocolo eficaz de combate à concussão.
Em função do risco de repetidas microlesões provocarem uma lesão cerebral grave, vários esportes criaram protocolos obrigatórios para concussão visando proteger a saúde do atleta.
Concussões entre atletas profissionais dominaram as manchetes esportivas nos últimos anos. Na NFL, na NHL, no futebol.
As duas primeiras ligas adotaram protocolos de concussão nos últimos anos.
A NHL introduziu novas regras em 2011 que exigem que os jogadores deixem o banco e se dirijam a uma sala silenciosa para serem avaliados por um médico após receber um golpe na cabeça. A NFL deu um passo adiante em 2013, exigindo que um jogador com uma suposta concussão recebesse autorização do médico da equipe e de um neurologista independente antes de voltar a jogar.
Brigas jurídicas melhoraram a segurança dos atletas
A NFL só criou um protocolo obrigatório e eficaz depois de perder uma batalha jurídica bilionária para atletas diagnosticados com a chamada ETC (encefalopatia traumática crônica), doença causada pelos golpes que os atletas recebem na cabeça ao longo da carreira. No Canadá, a morte de uma jovem de 16 anos que jogava rúgbi criou protocolo de concussão obrigatório para quase todos os esportes.
No futebol, ainda não se tem caso de atletas que processaram entidades ou clubes por lesões causadas no cérebro pelo jogo. Mas, nas últimas décadas, esses tipos de lesões aumentaram, já que o esporte ficou mais físico.
Segundo levantamento de Jorge Pagura, o número de concussões diagnosticadas tem se mantido no mesmo patamar nos últimos anos. Isso mostra que, realmente, o atual protocolo ainda é deficiente para uma lesão que pode causar danos irreversíveis no cérebro. Trauma na cabeça é a segunda lesão mais frequente no Brasileirão por três anos seguidos.
Por isso, a decisão do preenchimento obrigatório do formulário, a partir do segundo turno do Brasileiro, precisa ser comemorada. Mas – também é verdade -, o futebol ainda tem um bom caminho a percorrer nessa área.
O esporte muda a partir de provocações. A provocação pode aparecer como forma de aprimorar o jogo, ou de melhorar a segurança de quem joga. E ela pode aparecer a partir de processos judiciais, de tragédias, mas também do entendimento científico e humano de que o esporte precisa proteger a saúde de quem pratica. Esse entendimento é fundamental no Direito Esportivo.
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