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Lei em Campo

Por que o VAR não acaba com as polêmicas no futebol? Fácil

Andrei Kampff

19/07/2019 16h00

Resposta fácil: porque a regra do jogo permite interpretação. E no futebol – catalisado pela paixão que move o esporte – muitos enxergam o mesmo de maneira diferente.

Agora, um conselho importante: não culpem o VAR, culpem o árbitro!

O VAR não surgiu para tirar a autoridade de quem usa o apito. Pelo contrário, a tecnologia veio para auxiliá-lo, na busca por tentar deixar o jogo mais justo e dentro das regras.

VEJA TAMBÉM: 

 

Nesse início de implementação no Brasil, o árbitro tem se esquecido dessa autoridade que é dada a ele pelas regras do jogo, e usa o VAR como escudo, para fugir da responsabilidade de uma tomada de decisão.

Me parece claro: em lance interpretativo, a responsabilidade é DELE. O VAR tem que entrar no jogo em erros mais claros e objetivos!

Como já disse aqui, profissionalizar a arbitragem não resolveria agora o problema, mas diminuiria. O tratamento amador que se dá ao árbitro de futebol é um absurdo que insistem em manter.

O Luiz Marcondes, presidente do Instituto IberoAmericano de Direito Desportivo e colunista do Lei em Campo, explica bem essa história.

 

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Arbitragem? Árbitro? Ahhhh… VAR!

 

"O mundo detesta mudanças e, no entanto, é a única coisa que traz progresso."¹

 

A arbitragem do futebol tem um novo vilão. O VAR (video assistant referee) roubou a cena do árbitro e já é o assunto mais polêmico do futebol nos últimos tempos. O árbitro, que historicamente foi o protagonista das controvérsias em uma partida, tem sido alvo da metonímia, figura de linguagem em que há a substituição de uma palavra por outra quando há relação de contiguidade, e já foi "absorvido" pelo VAR.

Na Copa América, vencida pelo Brasil no Maracanã, o novo instrumento da arbitragem gerou o descontentamento de muitos dirigentes, treinadores e jogadores, inclusive Messi. "En esta Copa han cobrado boludeces desde el VAR y hoy no funcionó cuando debía hacerlo"², disparou o craque. O capitão da Argentina criticou duramente a utilização do equipamento ao longo da competição, mas em especial no jogo em que sua seleção foi derrotada pelos brasileiros.

A resposta da Conmebol, entidade organizadora da competição, foi comedida, mas rebateu o argentino. O diretor de competições da confederação, Hugo Figueredo, explicou que o VAR é somente mais um instrumento de trabalho do árbitro: "Más allá de las críticas que puedan existir, se debe concluir que es una herramienta para el árbitro, pero que la decisión final es siempre del árbitro."³ Ou seja, a decisão continua sendo do árbitro, e o árbitro continua sendo a maior autoridade da arbitragem no jogo.

Em nosso país, o presidente da Comissão de Arbitragem da CBF, Leonardo Gaciba, indica que a aplicação da ferramenta tem um formato próprio. "Nós temos uma linha de intervenção um pouco diferente no Brasil, é fácil de observar isso. Procuramos utilizar uma linha mais 'alta', um pouco mais do que foi utilizado na Copa América. Mais para erros fáceis de serem observados pela TV e que não tenham lances interpretativos. São duas linhas de intervenção diferentes, mas as nove primeiras rodadas do Brasileirão mostraram bem qual linha a CBF está tomando."⁴

Ressoando o apito de Maquiavel, em que "uma mudança deixa sempre patamares para uma nova mudança",⁵ queremos propor o VAR do VAR, buscando elucidar ao árbitro de campo que ele é a autoridade da decisão, e para todos os personagens do futebol, que o árbitro de vídeo não passa de um auxiliar, similar aos assistentes de canto. A arbitragem é do árbitro, e não do vídeo.

Entendemos que a aplicação diferente do VAR em cada país ou competição é a principal controvérsia da sua utilidade, e isso tem que evoluir. A universalidade e simplicidade das regras do futebol o tornaram um dos maiores fenômenos sociais da humanidade, e seria um contrassenso o VAR anular esse gol.

Que a arbitragem não explique os devaneios do VAR com a arte prosopopeica:

"Eu não evoluo, sou!"⁶

 

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1 – Charles F. Kettering
2 – https://iusport.com/art/88920/messi-critica-severamente-el-no-var-en-la-semifinal
3 – https://www.mundodeportivo.com/futbol/20190705/463300030051/el-var-es-una-herramienta-pero-la-decision-final-es-siempre-del-arbitro.html
4 – https://epoca.globo.com/cbf-em-defesa-do-var-torna-futebol-mais-frio-sim-mais-justo-23804358
5 – Maquiavel
6 – Pablo Picasso

Sobre o autor

Andrei Kampff é jornalista formado pela PUC-RS e advogado pela UFRGS-RS. Pós-graduando em Direito Esportivo e conselheiro do Instituto Iberoamericano de Direito Desportivo e criador do portal Lei em Campo. Trabalha com esporte há 25 anos, tendo participado dos principais eventos esportivos do mundo e viajado por 32 países atrás de histórias espetaculares. É autor do livro “#Prass38”.

Sobre o blog

Não existe esporte sem regras. Entendê-las é fundamental para quem vive da prática esportiva, como também para quem comenta ou se encanta com ela. De uma maneira leve, sem perder o conteúdo indispensável, Andrei Kampff irá trazer neste espaço a palavra de especialistas sobre temas relevantes em que direito e esporte tabelam juntos.